[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Seteais,
que desassossego!


I. (Re)construção no Vale dos Anjos

Quem deixa a Regaleira e continua a subir, está prestes a entrar no reino do desassossego. Ao lado esquerdo, na Quinta do Vale dos Anjos e, de vento em popa, o Engº Pais do Amaral, impávido e sereno, continua a construir, onde não deveria, aquela que, para todos os efeitos, será a casa dos seus sonhos. Para todos os otários que, em Sintra, não ousam desrespeitar a lei, a mansão não só é pesadelo mas também paradigma da ofensa ao espírito do lugar.

A implantação da residência, numa cota superior à do Palácio de Seteais, a escassas dezenas de metros à frente, a sua área de construção (872 metros quadrados, distribuídos por três pisos, um dos quais abaixo da cota soleira) e a volumetria, em Área de Protecção Parcial I, determinaram que a questão tivesse sido submetida à consideração do douto Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra.

De acordo com notícia do jornal Público, datada de 30 de Outubro de 2008, o Ministério Público averiguava, através de processo administrativo, da legalidade do acto de licenciamento de construção em zona protegida. Até hoje, mais nada se sabe. Naturalmente, ninguém se surpreende. Como não, se «apenas» se trata da construção [mascarada de reconstrução] de uma habitação em área do Parque Natural Sintra-Cascais classificada pela UNESCO?

Tendo sido eu quem primeiramente denunciou o despautério, é natural que me mantenha na expectativa quanto ao desenlace do procedimento jurídico. Apesar de todas as contrariedades e da evolução do caso, tão adversa aos gerais interesses do lugar em causa, não desisto de esperar que a Justiça acabe por ressarcir os munícipes pelo prejuízo dos interesses que, em devido tempo, a autarquia, o Igespar e o Parque Natural não terão sabido acautelar.

II. Feio, porco e mau

Do outro lado da estrada, o portão de entrada para Seteais. A propósito, breve parêntesis para aludir à polémica do recente mas escusado encerramento, aquando das obras de beneficiação do Palácio. Entende-se que faça questão de lembrar como o terreiro de Seteais é conquista histórica do povo de Sintra, com duzentos anos de interessantes episódios de luta para que se mantivesse o estatuto de livre acesso.

Fecho parêntesis e volto ao portão. Ora bem, então não é que, logo ali, no pilar do lado direito, alguém teve o topete de aplicar uma placa comercial, promotora de uma marca qualquer? Porém, do outro lado, no pilar da esquerda, inequívoca é a afirmação da propriedade do Estado. Mas, vamos lá ver, que atitude do Estado é esta que autoriza tais manigâncias ao concessionário do hotel? Por se tratar do banqueiro Espírito Santo, estará isento da conspurcação das nobres paredes do património de todos nós?

No entanto, muito bem estaríamos se por tão pouco (?) ficassem os desmandos no perímetro da concessão. A continuação deste texto explicitará a contundência do subtítulo desta componente II. Tenham a paciência de aguardar e verificarão como, infelizmente, cada um dos três adjectivos é pertinente. E, para que não restem dúvidas, haverá fotos condicentes.


De facto, trata-se de património do Estado. Não parece? Olhem bem as três fotos. Pois, é Sintra no seu melhor...





13 comentários:

Carmo Seabra disse...

Boa noite João Cachado,

Certeiro e mesmo em cheio. No coração da paisagem romântica, aos pés da Pena, Seteais não merecia ser tão mal tratado. Os sintrenses atentos acompanham a sua luta a favor de Seteais. Não desanime como às vezes dá ideia. Parabens e força na denúncia.
M.C. Seabra

Celso Rodrigues disse...

Seteais e um lugar de contradições. A casa de Pais do Amaral, o tanque destruído são atentados dos ricos e poderosos. A história de Seteais não desmente esta verdade. O programa continua...

Celso Rodrigues

Pedro Torres disse...

A marca comercial é como um grafito qualquer feito por um energúmeno. Quem fez e quem autorizou uma coisa destas é um marginal. Há muita maneira de ser fora da lei.

Pedro Torres

Teresa Soure disse...

Um dos maiores atentados recentes ao património de Sintra foi a destruição do tanque de Seteais. O João Cachado trouxe a questão
na berra durante semanas e
é ver como ninguém foi
responsabilizado.

Teresa Soure

Filomena Fernandes disse...

Colega João Cachado,
Seteais só acalma quando houver nas entidades oficiais técnicos e dirigentes com nível para impedir o que lá se tem passado. Lá e no resto do concelho e em todo o país. Até pode dizer-se que Seteais é o espelho da situação portuguesa com quem sabe safar-se e tem poder a conseguir fazer o que quer-

Filomena Fernandes

Manuela Mendes disse...

Prof. João Cachado,

Se passou por Seteais recentemente deve ter visto aquele pavilhão branco quase à beira da estrada. Pergunto se é possível montar
aquilo naquele lugar. Parece que não é compatível. Mas em Sintra
tudo se espera.
M.R.Mendes

H. Rosa disse...

Os dois figurões dum lado e doutro da estrada de Seteais gozam com Sintra e com os sintrenses e o Seara ainda lhes apara os jogos.
Não há dúvida, quem pode não é incomodado...

H. Rosa

João Ferreira disse...

Chega-se à situação de já não se admirar ninguém com as asneiras que se vão fazendo em Sintra como se fosse um vazadouro e não uma terra tão especial. O Seara não encontrou Sintra bem mas vai deixá-la muito pior. Seteais é um exemplo. No início do primeiro mandato de Seara era um lugar sossegado. Agora é a vergonha que se vê.

João Ferreira

Carlos Viana disse...

João Cachado,
Considere-se bem sucedido com o seu artigo. Cerca das 10 horas, estarei em Seteais com 2 ou 3 alunos que convenci acompanharem-me para ver a casa do Amaral e o tal barracão que referiu um comentário.
Com amizade, Carlos Viana

Ângelo Pires disse...

Muito interessante este post.
As marcas internacionais impõem-se de um modo muito autoritário em todos os mercados. Geralmente são franchisados com muito poder. Claro que é preciso ser corajoso para suster o impacto desses senhores. Pôr um logotipo
num muro, como é o caso que o Cachado denuncia, para essas marcas e seus representantes é uma brincadeira de garotos.

Ângelo Pires

Jorge Teles disse...

Dr. João Cachado,
Seteais podia ser um lugar sem igual.
Com um concessionário como o banco Espírito Santo nunca foi nem nunca vai ser um negócio com vantagem para o Estado e para Sintra.
Os benefício ficam todos com o banco. Seria a primeira vez se a história fosse diferente.
Jorge Teles

Rui Lopes disse...

O presidente da Câmara é um ausente destas lides. Mas o presidente da Junta de freguesia (de São Martinho) também nunca está presente. No anterior mandato, o Adriano Filipe ainda se incomodou com o assunto de Seteais. Agora é exactamente como se não existisse.
Rui Lopes

Anónimo disse...

A sério que não encontra problemas mais graves em Sintra do que uma placa de 15 cm? Uma muito boa tarde ...