[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 19 de novembro de 2011



Mozart e Messmer


O nosso amigo José Manuel Anes tem andado engripado. Ontem, num comentário suscitado por anterior referência a Cosi fan tutte, escrevia ele:

Se eu tivesse chamado este médico 'mesmérico' já estava bom há muito!!! Nota: o Mozart conheceu o Mesmer creio que em Paris quando era miúdo

Tendo-me sentido desafiado, por aquela incorrecção da referência a Paris, eis o esclarecimento que se impõe. A relação de Mozart (1756-91) com Franz Anton Mesmer (1734-1815) remonta a 1767-69, durante a longa estada do compositor em Viena, algum tempo antes de o médico ter descoberto a cura magnética que o tornaria famoso. Mesmer tinha casado com uma viúva rica, Anna Maria von Posch, vivendo o casal numa autêntica mansão, numa zona da cidade que, na altura era um subúrbio da Landstrasse.

Quem conhece a Viena actual só pode sorrir com esta alusão ao subúrbio. Mozart passou muitas horas naquela casa, durante outra estada na capital, em 1773, ali tendo tocado várias vezes. Contudo, em 1781, na altura em que o compositor se estabelece em Viena definitivamente, já Mesmer tinha deixado a família, depois da tentativa frustrada de cura da cegueira da pianista Maria Theresia von Paradis, para se instalar na sua conhecida clínica em Paris.

Consequentemente, Mozart encontrou a casa da Landstrasse muito vazia, digamos, conforme pôde testemunhar à irmã Nannerl, numa carta datada de 15 de Dezembro de 1781: “(…) No que respeita aos nossos velhos conhecidos, apenas fui uma vez visitar Frau Mesmer cuja casa não é uma sombra do que foi (…)”

Cumpre acrescentar – e, agora, são tudo suposições – que, em 1768, quem encomendou Bastien und Bastienne, K. 50, terá sido Mesmer em cuja casa, no Outono desse ano, a ópera teria sido estreada, portanto, tempos antes de se tornar famoso com a teoria que Mozart ridicularizaria em Cosi fan tutte, quando
a criada Despina recorre à estratégia da cura magnética.

Por favor, reparem no esplêndido elenco. Que fabulosas vozes mozartianas! Absolutamente irrepetível, sob a direcção de outro mozartiano, Karl Böhm. Como sou velho, ainda assisti a récitas com esta gente. Que sorte a minha, hem?





http://youtu.be/cUJGflaeExE

Agora, confiados no rápido restabelecimento de José Manuel Anes, apenas lhe desejamos não lhe passe pela cabeça insistir nesta hipótese de cura...









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