[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 30 de novembro de 2011





Sede meticulosos!


Alegrai-vos, meticulosos falantes e escreventes do Português! Ainda não se atingiu o ponto de não retorno… Ficai sabendo que, em tempos tão propensos à divulgação e, inclusive, à institucionalização do pontapé na gramática, através dos meios de comunicação social, continua havendo gente preocupada com a correcção da expressão do seu discurso falado e escrito.

Confirmando como assim acontece, eis que vos trago um exemplo colhido nas páginas do facebook, onde, geralmente, tão mal se escreve. Trata-se de alguém que se atreve à formulação de uma dúvida, e, maravilha das maravilhas, articulando aquela tão rara atitude com um pedido de conselho. Tão pouco habituado estou a tais eventos que exultou a minha alma de filólogo. No entanto, não deixei de reparar que o subscritor da dúvida é pessoa normalmente cuidadosa. Por isso, coitado, tem dúvidas…

Vamos, então, ao problema colocado. Trata-se do caso paradigmático do verbo «ter» que tanto pode reger preposição «de» como construir-se com oração introduzida pela conjunção «que». É neste contexto que, concretamente, perguntava o meu consulente(1) se deve dizer e escrever «ter que» ou «ter de». Apesar de não se tratar de questão particularmente bicuda, passo a recorrer ao tira-teimas do Sá Nogueira:

“(…) «Ter que» emprega-se como «Tenho que fazer», que é elíptica por «Tenho alguma coisa que fazer», onde o «que» é um pronome relativo, cujo antecedente é, clara ou ocultamente, «coisa». «Ter de» emprega-se em frases como «Tenho de fazer alguma coisa», onde o «de» é uma preposição que precede o substantivo verbal «fazer». Não obstante ser bem clara a distinção entre as duas expressões, há uma tendência muito acentuada para só se empregar a primeira, quer numa, quer noutra acepção. Assim, diz-se correntemente: «Tenho que fazer alguma coisa, construção que os meticulosos evitam (…)” (2)

Nestes termos, a todos, o meu que também é o implícito conselho de Sá Nogueira, ou seja, privilegiar a meticulosidade… Sempre!

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(1)Luís Miguel Correia Lavrador, há dois dias, no facebook.
(2)SÁ NOGUEIRA, Rodrigo de, Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem, Lisboa, Liv. Clássica Editora, 1974, p.356.

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