[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


Richard Wagner e a Maçonaria
[1ª parte]



É em Parsifal, sua derradeira ópera, que Richard Wagner evidencia sinais de reaproximação do misticismo cristão e, em particular de formas rituais do catolicismo que, por exemplo, aflorara em Tannhäuser. E, curiosamente, também naquela ópera, não é difícil reconhecer a influência de certas soluções que designaríamos como maçónicas, de algum modo, articuláveis com tentativas do compositor no sentido de ser iniciado na Augusta Ordem.

Quando se entra neste fascinante território em que Música e Maçonaria se cruzam em diferentes plataformas, é fatal que logo ocorra o nome de Wolfgang Amadeus Mozart. No entanto, em abono da verdade, outros grandes e ilustres criadores musicais como Haydn, Liszt ou Beethoven também foram membros ou estiveram muito próximos da Maçonaria.

A propósito, por uns instantes, detenhamo-nos no caso de Beethoven, que Wagner admirava acima de qualquer outro músico compositor, para lembrar que deixou testemunhos inequívocos de proposições maçónicas, como no verso «Alle Menschen werden Brüder» , da Ode à Alegria, o poema de Friedrich Schiller que é suporte do último Andamento da sua 9ª Sinfonia, ou à passagem «Es sucht der Bruder seine Brüder» na ópera Fidelio, com libreto de Ferdinand Sonnleithner.

Entrando na matéria mais específica e afim do objectivo deste escrito, cumpre lembrar que tanto em Lohengrin como no Parsifal subjaz uma noção de templo de virtudes cujo acesso só é possível uma vez vencidas várias provas. Aliás, no caso da última referida, não tão flagrante como acontece em Die Zauberflöte, este «caminho» é análogo ao da ópera de Mozart.

No artigo Unbekanntes von Richard Wagner. Wie der berühmte Komponist Freimaurer werden wollte, incluído na sua obra Die wiener Oper, Max Graf considera que “(…) Parsifal, o puro idiota introduzido no templo do Graal pelo velho e sábio Gurnmanz, é um segundo Tamino, para quem Sarastro se torna um esclarecido condutor. O mesmo Gurnmanz é uma grandiosa amplificação da figura de Sarastro (…)”.

Sempre apoiados em Max Graf, que tem o cuidado de lembrar não estarem os símbolos maçónicos apenas presentes no libreto mas também na própria música de Die Zauberflöte, pois o mesmo se poderá considerar acerca do ritmo da música que leva Gurnmanz e Parsifal na subida de ambos em direcção ao castelo. E, se assim é, então o ágape do I Acto e as exéquias do III pressupõem uma morfologia maçónica.

Aliás, como muito bem recorda o saudoso João de Freitas Branco*, assim melhor se entende que, ao filmar Die Zauberflöte, Igmar Bergman tenha focado o intérprete da figura de Sarastro, ou seja, o baixo Hans Sotin, folheando uma partitura do Parsifal, numa cena de intervalo entre o primeiro e segundo actos. Igualmente, no início do cortejo fúnebre de Titurel, as intervenções dos cavaleiros do Graal, sob a forma alternante de perguntas e respostas, coincidem com passos do ritual maçónico.

Não deixa de ser sintomático, por outro lado, que as cerimónias acima aludidas comecem precisamente ao meio-dia, a mesma hora em que se inicia o julgamento em Lohengrin. Como é sabido, e aqui se recorda, o meio-dia é a altura em que, simbolicamente, se iniciam os trabalhos nas lojas maçónicas. Estas coincidências, longe de fortuitas, acabam por se articularem com significativos momentos da vida do próprio Richard Wagner.

(cont.)

A título de ilustração do texto cuja primeira parte acabei de publicar, proponho-vos este excerto de uma famosa produçao do Festival de Bayreuth cujas coordenadas estão bem identificadas na informação fornecida pela gravação. Boa audição!

http://youtu.be/iHbwPe5QDYg
Parsifal (ACT II) 05

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