[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 23 de maio de 2012


Ana Maria Bénard da Costa,
lição de uma vida




Foi na tarde do passado dia 16, na Escola Secundária de Santa Maria em Sintra, que o Sindicato dos Técnicos, Administrativos e Auxiliares de Educação, Sul e Regiões Autónomas, membro da FNE/UGT, levou a efeito a primeira iniciativa de um ciclo dedicado à abordagem de assuntos inerentes a vários domínios do Sistema Educativo. Desta vez, considerou aquele Sindicato que, para início do seu programa pluridisciplinar de animação socioeducativa, fazia todo o sentido propiciar uma reflexão no âmbito da Educação Especial.


De facto, no conturbado período que atravessamos, a opção do STAAE-Sul por este «território de preocupação», decorre da apreensão com que se assiste à tomada de decisões que comprometem a prossecução dos objectivos que, há dezenas de anos, se consideram significativas conquistas, consubstanciadas no modelo da denominada Escola Inclusiva. Tendo em consideração que a inquietação afecta todos os agentes educativos, ainda mais inquestionável se revelaria o interesse da reflexão em apreço.

Em Portugal, se alguém há que possa testemunhar, desde a sua génese e até ao momento actual, como se processou a prática de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular e se implantou, radicou, desenvolveu até adquirir estatuto institucional, certamente que será Ana Maria Bénard da Costa, inequívoca mentora do modelo, a quem o Sistema Educativo nacional reconheceu inquestionável autoridade nacional.


Pois foi, precisamente, Ana Maria Bénard da Costa quem o STAAE, Sul convidou com o intuito de que apresentasse público testemunho do que foi a sua vida em defesa de causa tão nobre. E, de facto, pretendendo abranger, indistintamente, professores e pessoal de apoio educativo, o STAAE-Sul conseguiu congregar no grande auditório da referida escola um atento grupo de várias dezenas de participantes que, muito interventivos, se envolveram na proposta que lhes foi presente.

Após as palavras de boas vindas a cargo da professora Maria da Conceição Coelho, Subdirectora da Escola Secundária de Santa Maria e de Cristina Ferreira, Presidente da Direcção do Sindicato, eu próprio fiz uma apresentação muito informal da convidada, tendo enaltecido as suas qualidades de lutadora, tendo oportunidade de lembrar como tais características foram devidamente distinguidas pela condecoração nacional que recebeu do então Presidente da República Jorge Sampaio.



Ana Maria Bénard da Costa começou por apresentar o filme “Child Friendly Schools”, produzido pela UNICEF, cuja projecção foi seguida de debate muito participado durante o qual foi possível aflorar as mais pertinentes questões da Educação Especial em todas as latitudes do planeta. Sucederam-se as intervenções da audiência até que AMBC conduziu a intervenção para o período em que concretizaria o objectivo fundamental da sua comunicação.



Com uma simplicidade tão tocante quanto eficaz, traçou as etapas fundamentais da sua vida profissional, ao longo de quarenta anos, como professora e técnica, em enquadramentos que se cruzaram, tanto no âmbito do Sistema Educativo como, por exemplo, no da Segurança Social, nos sectores público, privado e cooperativo.


O seu percurso coincide e confunde-se com o próprio percurso da Educação Especial no nosso país. É todo um caminho pautado por marcas de singularidade que se evidenciam através da permanente disponibilidade para a adequação do saber adquirido na experiência do que ia fazendo, num fértil terreno de desafios como foi o de Portugal desde os anos sessenta do século passado até à actualidade.

No final, em troca de impressões muito informais, entre outras conclusões deste momento de reflexão propiciado pelo STAAE, Sul, os participantes deste encontro salientavam o facto de terem adquirido e/ou confirmado, com AMBC, a fundamental distinção entre “integração” e ”inclusão” e, em simultâneo, como a confusão de tão diferentes perspectivas de trabalho, no domínio da Educação Especial, pode ser e, não raro, tem sido perniciosa a vários títulos.


Além dos saberes ventilados, que AMBC soube agitar no amplo sentido do que seja a animação cultural, como atitude cívica que, mais uma vez, protagonizou, ainda ficou o magnífico exemplo humano de alguém que, acima de tudo, valoriza a disponibilidade mental para responder a determinados estímulos – na sua própria expressão, quais curto-circuito ou, outras vezes, choques eléctricos –que é preciso saber identificar como radicais desafios à mudança do statu quo. Em suma, uma grande Senhora da Educação que soube pôr em comum uma grande lição de vida.

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