[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 21 de maio de 2012



Siegfried,
Filho de Wagner

(texto inicialmente publicado no facebook em 6 do corrente)

Nasceu em 1869, na villa Tribschen, em Lucern, chamava-se Helferich Siegfried Richard Wagner e, tal como ontem vos lembrava, conhecido pelo diminutivo ‘Fidi’, era o Siegfried cujo idílio o pai verteria na peça musical que ontem nos ocupou, ou seja Idílio de Siegfried que, inicialmente, titulou como Idílio de Triebschen.
Quando, em 1908, a mãe deixou a direcção do Festival de Bayreuth, foi ele quem a substituiu, tendo permanecido no posto até morrer, em 1930. Filho de Richard Wagner e neto de Franz Liszt, difícil seria que não se tornasse compositor. Ainda esteve tentado a seguir a carreira de arquitecto mas acabou por se render à música, revelando-se um prolixo criador que, espantem-se, escreveu dezoito óperas das quais também foi autor dos libretti, oito peças orquestrais, doze obras vocais…

Ao contrário do pai e do avô, grandes mulherengos, com atribuladíssimas vidas sentimentais e solapadas paixões por várias mulheres, Fidi era um conhecido homossexual ou, se quiserem, talvez bissexual, se é que isso existe. Depois de vários escândalos, indo já muito adiantado nos seus quarenta e cinco anos, Cosima arranjou-lhe um casamento de manifesta conveniência com uma miúda inglesa de dezassete, Winifred Marjorie Williams que, tendo ficado órfã, seria adoptada por Henrietta Karop e seu marido Karl Klindworth, um amigo da família Wagner.

Um parêntesis para lembrar que esta inglesa Winifred viria a revelar-se uma grande amiga de Adolf Hitler, chegando a falar-se no seu iminente casamento com o ditador, ainda que ela sempre tenha negado qualquer envolvimento com o partido nacional socialista. De qualquer modo, não se livra da reputação de ter sido quem, mais decisivamente, terá contribuído para a «nazificação» dos Wagner, herdeiros do compositor que falecera havia cinquenta anos. Honra lhe seja feita por se ter manifestado contra a perseguição aos judeus e, inclusive, por ter «mexido uns cordelinhos» para safar algumas pessoas, como Hedwig e Alfred Pringsheim, sogros de Thomas Mann, das garras da Gestapo.

Fidi e Winifred tiveram quatro filhos, Wieland (1917–1966), Friedelind (1918–1991), Wolfgang (1919–2010), Verena (nascida em 1920). Esta prole nada significava em relação à militante homossexualidade de Siegfried. Falei com alguns velhotes que, em Bayreuth, ainda há poucos anos se lembravam e contavam como ele se perdia com os jovens dos coros. Enfim, um caso perdido… À excepção de Wieland, cujas encenações continuam famosas – e que, na minha opinião, foi o mais dotado, em termos artísticos, como director do Festival – conheci os outros três pessoalmente, muito simpáticos, muito controversos também.

Volto a Siegfried Wagner para vos trazer uma sua peça de excelente recorte. Trata-se do poema sinfónico "Glück", composto entre 1922–23, dedicado à memória de Clement Harris [amigo íntimo do compositor, com quem partilhou uma viagem ao extremo Oriente, em 1892] interpretado pela Rundfunk-Sinfonierorchester Frankfurt, sob a competente direcção de Dmitri Kitajenko.

http://youtu.be/APDj_thrQvs

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