[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 29 de maio de 2013


Mozart,
29 de Maio de 1787


 
Pois, neste dia, em que já vos chamei a atenção para Le Sacre du Printemps, também estreada num 29 de Maio, há precisamente cem anos, aí tendes mais uma importante efeméride do mundo musical.

Viena, 29 de Maio de 1787, Mozart regista no seu catálogo pessoal uma Sonata em Dó para Piano a quatro mãos, cujo manuscrito designa especificamente cembalo primo e cembalo secondo (ou seja, primeiro e segundo pianos), circunstância que conduz o musicólogo
Alfred Einstein à proposta de que a peça ganharia com a possibilidade de ser tocada a dois pianos.

Nesta KV. 521, tanto o primeiro como o terceiro e último andamentos, ambos Allegro, são brilhantíssimos e, na expressão do próprio compositor, trata-se de uma Sonata bastante difícil. Tal como acontece com a sua precedente imediata, a Sonata em Fá Maior KV 497, trata-se de andamentos particularmente exigentes, quase sem os traços concertantes das duas sonatas anteriores.

A gravação que vos proponho, datando de 1978, foi assegurada por Dezső RÁNKI e Zoltán KOCSIS - este último tendo faltado a um recital programado para o Grande Auditório da Gulbenkian, no passado dia 28 de Abril - numa interpretação a todos os títulos de alto gabarito.

Boa audição!



http://youtu.be/8E4Jmtmok1E
 


Le Sacre du Printemps
- centenário, hoje


Théatre des Champs Elysées, Paris, 29 de maio de 1913, estreia de Le Sacre du Printemps, música de Igor Stavinsky, para um bailado com coreografia de Nijinsky, cenografia e figurinos de Nicholas Roerich, produção de Sergei Diaghilev para os Ballets Russes.

O escândalo inicial, de facto, um autêntico motim, muito mais se deveu à componente coreográfica do que ao seu impressivo suporte musical que, de qualquer modo, é uma das peça
s mais revolucionárias de toda a História da Música. Em 11 de julho do mesmo ano a produção repetir-se-ia em Londres. Porém, a proposta de Nijinsky foi pura e simplesmente esquecida até ser reconstruída a partir de 1987 e estreada em Los Angeles, 1990.

Tudo está escrito sobre Le Sacre du Printemps. No entanto, tenho reparado que, mesmo algum público geralmente afecto ao Ballet, muito pouco conhece ou desconhece mesmo esse trabalho inicial de Vaslav Nijinsky. Felizmente, como a reconstrução está documentada e gravada, pois é esse conjunto documental que tenho o maior gosto em partilhar.

Tive o gosto, Há seis anos, de visitar uma grande exposição monográfica sobre Stravinsky, em Salzburg, onde este material era projectado com imenso sucesso de público. Não tenho dúvida de que o mesmo acontecerá convosco. Assim, primeiramente, farão o favor de aceder à apresentação, assinalada com (I), à qual se segue o Ballet completo (II).

Bom visionamento!
Boa audição!


http://youtu.be/JPh7yq_5UBM (I)

http://youtu.be/l_M0NIzVzWU (II)
 
 

terça-feira, 28 de maio de 2013







Coadopção e adopção plena,
mais uma vez
 

Ontem, no programa "Prós e Contras" da RTP1, discutiu-se um assunto que me levou à publicação do texto 'Coadopção e adopção plena' no passado dia 19 deste mês. Trata-se de matéria do maior interesse em que as pessoas têm mesmo de tomar posição.

Estão em causa os direitos das crianças. Neste caso, «é proibido» alguém esconder-se ou subtrair-se à formulação da opinião. Ninguém pode acobardar-se e ceder ao poderoso lóbi LGBT que, a coberto de posições pseudo-progressistas, está a promover uma das mais sérias campanhas afins da adopção plena por casais homossexuais cujo resultado pode redundar no prejuízo de crianças assim expostas a experimentalismos preocupantes.

A Dra. Isabel Moreira, o Dr. Miguel Vale de Almeida, o Dr. Corte Real, e mais uns quantos elementos do seu poderoso grupo, continuam a beneficiar de uma comunicação social que os acolhe como grandes progressistas enquanto que pessoas tão honestas como eles, porque não alinham com propostas que consideram lesivas dos interesses fundamentais das crianças, são apelidadas de tudo quanto há mais de retrógrado e violentamente escarnecidas. 
 
Neste momento, convém que, muito a propósito, se não esqueça a atitude do Dr. Vale de Almeida durante o processo que, no Parlamento, levou à aprovação da Lei que estabeleceu o casamento entre homossexuais. Se bem se lembram, depois do protagonismo que assumiu durante os debates parlamentares, logo que viu resolvido o problema que afectava o grupo em que se insere, o antropólogo que, para todos os efeitos, era deputado da nação, considerou que estava esgotado o seu mandato...
 
Trata-se de uma atitude de perfeito egocentrismo. Pois bem, sem que arrisque o incurso em qualquer erro mais ou menos grosseiro, permito-me considerar que, actualmente, em relação à adopção plena por casais homossexuais, o comportamento deste grupo, que se abriga sob a sigla LGBT, é exactamente o mesmo. Depois de fazerem passar na Assembleia da República uma lei sobre coadopção, olham para o umbigo e consideram-se no direito de se apresentarem como adoptantes plenos.
 
Esquecem ou relegam para plano evidentemente secundátrio os interesses das crianças, cujo direito à adopção por um casal de cidadãos heterossexuais, a exemplo daqueles que foram responsáveis pela origem biológica, é absolutamente inequívoco. Neste caso, o egocentrismo que assinalei a Vale de Almeida* coincide, flagrantemente, com um desígnio puramente egoísta. Não há como recear o termo, trata-se de egoísmo.
 
A questão está a ganhar tais foros de escândalo que pessoas como, por exemplo, o psicólogo Luís Villas Boas, Director do Refúgio Aboim Ascenção, de Faro, figura de referência nacional na defesa dos interesses da criança, ontem mesmo, era enxovalhado no mencionado "Prós e Contras", aliás, como todos quantos ousam manifestar opinião idêntica. Mas isto é admissível? A tolerância - que, de modo algum, confundo com qualquer forma de sobranceria ou paternalismo - pode pressupor a demissão de opinião?
 
A maior parte de nós, os que pretendemos zelar pelos direitos dos mais frágeis entre os frágeis, está preocupada, não só com o prejuízo das crianças, se educadas por um casal homossexual, em relação ao modo como vão adquirindo os referentes de género, mas também com outras questões tão sofisticadas como esta e que, de modo algum, podem ser encaradas de ânimo leve.
 
Para já, podemos manter a confiança decorrente doe um facto determinante. Ao contrário do mensagem que pretendem fazer passar, com recurso às mais diferentes estratégias, até ao momento, nenhum grupo de LGBT, nacional ou além fronteiras, conseguiu demonstrar que a adopção de uma criança, por casal heterossexual ou homossexual, é exactamente a mesma coisa. Isto é tão importante que basta para que nos batamos, sem tibiezas, contra o arrivismo de quem não hesita em nos considerar ignorantes, xenófobos, retrógrados e mal intencionados.
 
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*A propósito, escrevi e publiquei, quer no facebook quer no blogue, o texto que, datado de 21 de Fevereiro de 2011, reproduzo parcialmente.
 

Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2011

Par(a)lamentar
 
"(...) Neste contexto, hoje vos trago uma nota de breve reflexão acerca de um assunto que me permito opinar deveria ter merecido uma atenção diferente daquela que, em meados de Dezembro, lhe votou a comunicação social, quando se soube que o conhecido antropólogo, Miguel Vale de Almeida, deputado do Partido Socialista, resolvera renunciar ao mandato.

Na altura, considerou o parlamentar independente que estava cumprida a tarefa para a qual fora eleito. Ou seja, cessava o seu mandato uma vez que acabara de ser legalmente reconhecido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a causa em que se tinha empenhado na Assembleia da República, desde que havia sido eleito no ano precedente.

Ora bem, nas sociedades onde vigora o regime da democracia representativa, é suposto que os eleitos se empenhem nas causas constantes dos programas partidários sufragados. Na sequência de eleições legislativas, recebe o deputado um mandato nos termos do qual, durante quatro anos, se compromete fazer o que estiver ao seu alcance para honrar o contrato celebrado com quem nele delegou o poder de conceber e alterar leis que melhorem a qualidade da vida de todos os cidadãos.

Como não podia deixar de ser, ao candidatar Miguel Vale de Almeida nas suas listas, o Partido Socialista apresentou-o ao círculo eleitoral e à República, com o geral estatuto que enquadra todos os potenciais eleitos. Não havia, não podia nem pode haver qualquer diferença de condição ou enquadramento. Então, como se entende que, passados uns meses, o deputado se tivesse arrogado à quebra do compromisso, afirmando o que afirmou, desvinculando-se da palavra que o prendia aos cidadãos que nele confiaram?

Em conclusão, cumpre afirmar o que, implicitamente, se infere das linhas precedentes, ou seja, Miguel Vale de Almeida não foi eleito por um punhado de eleitores para o desempenho da tarefa que, tão apressada como erradamente, afirmou como tendo sido, afinal, a única que o determinara. Grande erro. Grande falta de discernimento. E, convenhamos, igualmente, grande desrespeito pelo Parlamento. (...)"



 
 







 





Município de Sintra,
Pessoal de Apoio Educativo


Como sindicalista, dirigente da FNE, também representante dos trabalhadores a quem se dirigiu o Presidente da Câmara Municipal de Sintra nesta oportunidade, é com o maior regozijo que vou remeter este discurso para todos os órgãos dos sindicatos que nos são afectos, no seio da UGT.

Trata-se de uma posição absolutamente exemplar do município de Sintra que, para nós, recordo, já há anos, se tornou um paradigma de boas práticas, especialmente, em relação aos Trabalhadores de Apoio Educativo (em geral designados como trabalhadores não docentes).

Se o Presidente Prof. Fernando Seara me permite, gostaria de destacar, ao longo dos anos, as atitudes de gestão protagonizadas pelo Senhor Vice-Presidente e Vereador do pelouro da Educação, Dr. Marco Almeida que é credor dos maiores encómios na condução de todos os assuntos inerentes ao pessoal em apreço.

De tal maneira assim tem acontecido que, para nós, sindicalistas da UGT/FNE/FESAP, repito, Sintra se eidenciou como modelar entre todos os municípios da Área Metropolitana de Lisboa, como houve oportunidade de enfatizar, publicamente, durante uma reunião no Palácio Valenças, em que estiveram representados o Ministério da Educação, a Associação dos Directores de Escolas, os municípios e os sindicatos.

Como calculam, para mim, pessoalmente, não só na condição acima referida mas também como munícipe, é óptimo poder fazer este destaque.
É nesse sentido que passo a reproduzir as palavras que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra proferiu

 
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CERIMÓNIA DE ENTREGA DE CERTIFICADOS DE CONCLUSÃO DO RVCC PRO
25 de Maio de 2013

Caros Formandos,
Senhoras e Senhores,

Em 2010, enfrentei um dos maiores desafios enquanto Presidente do Município de Sintra, ao aceitar a gestão da totalidade dos estabelecimentos públicos do ensino básico de Sintra.
Fi-lo, consciente das dificuldades, mas também consciente que a municipalização do sector educativo
se traduziria em ganhos na promoção de políticas mais adequadas e próximas das necessidades concretas da população e na concretização de medidas de gestão descentralizadoras e suportadas numa melhor articulação e aproximação com os órgãos de direção dos Agrupamentos de Escolas.
 
Penso que, três anos volvidos sobre a assunção das referidas competências em matéria de educação, estamos em condições de afirmar que, apesar do que ainda faltará fazer, muito já se fez: existe hoje uma efetiva ação social escolar, um efetivo acompanhamento de projetos educativos, uma real aproximação e articulação, a todos os níveis, com a comunidade educativa em geral e com as Direções dos Agrupamentos em especial e, no campo da gestão dos recursos, uma efetiva política de gestão integrada, aproveitando e potenciando a experiência e o trabalho dos serviços municipais, alargada, desde 2010, à gestão dos equipamentos e recursos educativos.
 
m matéria de Recursos Humanos, a palavra de ordem foi “qualificar”: o pessoal não docente (sim, é a vós que agora me dirijo especificamente), desempenha um papel fundamental, eu diria mesmo, insubstituível e inestimável, no contexto escolar: são os auxiliares de ação educativa muitas vezes, os primeiros a detetar sinais de alerta nas crianças que passam despercebidos, até em contexto de aula; são os auxiliares que, não raras vezes, acabam por ser os que primeiro ouvem, da criança, o lamento, a inconfidência que os perturba e que nos comove; são os auxiliares que muitas vezes são a primeira linha na resolução de conflitos, na gestão dos primeiros problemas de socialização, de discriminação, de conflito interior;
 
E é por isso, é pelo vosso papel e pela importância da vossa ação, que entendemos que devíamos apostar na vossa qualificação, na vossa melhor preparação, escolar e profissional, reforçando competências que vos são necessárias para melhor fazerem, agirem e desempenharem a vossa verdadeira missão de serviço público.
 
Sim, porque é disso que se trata: uma verdadeira missão de serviço público; a escola reflete, espelha, o que de melhor e pior podemos encontrar na sociedade e coloca-nos, por isso, exigências acrescidas, que, do ponto de vista profissional, mas também pessoal, reclamam um constante processo de aprendizagem, de qualificação.
 
Imbuídos deste sentido de responsabilidade quanto às exigências que se suscitam a quem trabalha, hoje, na escola pública, que iniciámos, no contexto da parceria que, em boa hora, outorgámos com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o processo de certificação de competências dirigido aos Auxiliares de Ação Educativa do conjunto de estabelecimentos de ensino público de Sintra.
 
E é com uma enorme satisfação, pessoal, que hoje aqui assinalamos a conclusão deste processo relativamente a 133 Auxiliares; dirão alguns que ainda é muito pouco…… eu direi, que são só os primeiros 133 de muitos mais que se entusiasmarão e que quererão, também eles, obter uma certificação profissional, que parte, sem dúvida, da experiência e saber adquirido, mas que é, essencialmente, uma porta aberta para o conhecimento e valorização futuras.
 
Digo-vos, agora na qualidade de Professor, que o conhecimento, a qualificação, são bens preciosos, que não têm preço: abrem-nos novos caminhos, novos horizontes, na compreensão do mundo que nos rodeia e do mundo em que os nossos filhos e netos irão crescer e tomar o seu lugar, e isso, por si só, vale tudo e compensa (estou certo), o caminho, mais ou menos difícil, que vos conduziu até aqui.
 
O Município de Sintra, enquanto vossa entidade empregadora, quis fazer parte deste caminho, facilitar o percurso, quis participar ativamente na vossa qualificação, e foi isso que fez: facilitou o vosso processo de aprendizagem e de qualificação. Mas não posso deixar de vos lançar um desafio: continuem, progridam, aprofundem o que alcançaram. Duas palavras finais de agradecimento:
 
À Base Aérea de Sintra e à sua Academia, mais uma vez, a disponibilidade e simpatia com que acolheram esta iniciativa;
Ao Instituto de Emprego e Formação Profissional e, em especial, a todos os Técnicos e Formadores do Centro de Emprego e Formação Profissional de Sintra que tão empenhadamente se envolveram na condução deste processo, com o seu profissionalismo e dedicação;
 
Não será fácil entender as especificidades de um processo que é, no fundo, uma “nova oportunidade” para os adultos que não puderam usufruir de “oportunidade anterior”;
Não será fácil construir, com eles e para eles, adultos, um caminho de descoberta de competências que, na maior parte das vezes, estão escondidas ou ignoradas e que a timidez, o receio da descoberta, o desconhecimento da aventura da aprendizagem, não permitiu evidenciar.
 
O papel do formador, do orientador, é, pois, essencial e cumpre-me, neste momento, enaltecê-lo e agradecer a todos os formadores presentes, a sua participação e envolvimento neste processo de certificação, que desejo que se repita, em Sintra e pelos sintrenses.
 
Um bem-haja a todos!
 
 

domingo, 26 de maio de 2013




Shakespeare,
perene inspiração
 

[texto parcialmente adaptado do artigo publicado na edição de 24 de Maio de 2013 do Jornal de Sintra]


Como não poderia deixar de suceder, por via da nossa opção pelos estudos filológicos inerentes às culturas anglo-saxónica e germânica, minha mulher, eu e tantos dos nossos amigos e conhecidos que fizeram o mesmo caminho de estudos académicos, consideramos que jamais as nossas cabeças pensariam como o fazem se, em Shakespeare, não tivéssemos radicado muitos dos paradigmas que estruturam uma maneira de ser, de estar e de ver o mundo.

Pelos nossos dezoito anos, fomos levados a ler a grande maioria da obra do dramaturgo inglês, no original, edição da Collins, com introdução e glossário do Prof. Peter Alexander, Em muitos casos, felizmente, o que fizemos foi reler tragédias, comédias e peças históricas que, até essa altura, já havíamos lido em traduções para Português ou Francês, língua esta que, para muitos jovens da minha geração, funcionava como segunda língua, desde a infância, língua de acesso a obras literárias cuja tradução portuguesa ou não era de boa qualidade ou, pura e simplesmente, não existia.

Era tão cuidada a nossa formação académica no que respeitava a obra de Shakespeare que causava admiração quando, por vezes, em conversas no estrangeiro, em meio universitário ou outro, na própria Inglaterra, alguns dos nossos interlocutores se apercebiam de que tínhamos lido as peças integralmente - não excertos, como em tantas universidades europeias acontecia e acontece - e que tínhamos acedido a estudos críticos do maior gabarito. Shakespeare, na Faculdade de Letras de Lisboa, era a sério. Claro que também é possível levar a brincar as coisas mais sérias. Mas isso é outra história que aqui não cabe…

Muita dessa seriedade, que aqui expresso como um tributo à formação e informação que tive o privilégio de aceder, também estava plasmada em produções cinematográficas esplêndidas, muitas transmitidas pela RTP nos anos sessenta, outras através de sessões que, há cerca de cinquenta anos, o British Council promovia, entre outros, igualmente com o objectivo de que pudessem visioná-los os estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa, tantas vezes alunos de Leitores de Inglês que também ali trabalhavam.*

Shakespeare, a sua proclamada, reconhecida e justa universalidade. Na História da Cultura Ocidental, em especial depois do Renascimento, muito dificilmente se encontraria outro vulto das Artes e das Letras cuja produção tivesse inspirado tantos poetas, pensadores e artistas, de todas as áreas. E, tão somente, ao nível das traduções para a nossa língua, como não lembrar as que fizeram homens tão diferentes mas igualmente fascinantes como, por exemplo, o nosso Rei D. Luís, de Hamlet, The Merchant of Venice, Richard III, e Othello, the Moor of Venice ou o Dr, Álvaro Cunhal, de King Lear?

É certamente por tudo isto e muito mais que, com tanta frequência, ao folhear compêndios de História das Artes, da Literatura, da Filosofia, deparamos com testemunhos de figuras de proa da vida cultural, de todos os quadrantes ideológicos, de acordo com os quais a obra shakespeariana ocupa, em todas as vertentes de análise, um espaço matricial na formação do seu pensamento individual.

É impressionante a galeria de personagens criadas por Shakespeare (1564-1616). Porém, verdadeiramente surpreendente é o carácter universalista dessas criações únicas e, no domínio da caracterização, a imensa quantidade de estudos de psicologia que têm como objecto essa série interminável de ‘dramatis personae’ de toda a lavra do autor de Stratford-upon-Avon.

Pois bem, se tal acontece, é porque os seus traços característicos, em todos os matizes, atingem o paradigma da absoluta diversidade na unidade. Mais, essa evidência não pode deixar de radicar na circunstância de o autor se revelar um ímpar conhecedor do comportamento humano, um «psicólogo» ‘avant la lettre’, em todas as situações, na paz ou em conflito, em todos os enquadramentos, estratos e estatutos sociais, em ambientes rurais e urbanos, ficcionais, mitológicos.

E, se alguma dúvida subsistisse acerca deste ponto, bastaria ter em consideração o próprio Sigmund Freud que, como sabemos, ao longo de anos, se manifestou tão fascinado como perplexo perante o fenómeno Shakespeare, dificilmente aceitando que fosse o real autor da monumental obra que tem assombrado os maiores génios destes últimos séculos. Apenas a título de referência sumária, recorde-se que Freud atribuiria a verdadeira autoria das obras de William Shakespeare a Edward de Vere, 17º Conde de Oxford, teoria esta de que viria a abdicar parcialmente.

No que respeita a Carl Jung, a outra grande figura máxima da Psicologia, também não faltam estudos sobre as tragédias e comédias de Shakespeare à luz da sua perspectiva de abordagem**. E, se não ficarmos por estes gigantes e nos lembrarmos de que outros grandes mestres como Thomas Ogden ou Michel Foucault, só neste particular aspecto da psicologia ‘sticto sensu’, dedicam tanto do seu labor e atenção ao mesmo universo dramatúrgico, teremos de render-nos à evidência de que estamos perante um caso que, eventualmente, só tenha paralelo em Leon Tolstoi.

Não surpreende, portanto, que neste temporada de 2012/2013, em que a sua Orquestra comemora o jubilar cinquentenário da estreia, a Fundação Calouste Gulbenkian tenha decidido integrar um ciclo de quatro concertos, também envolvendo o Coro, propondo obras de compositores que se socorreram de peças de William Skakespeare para a sua concepção.

Para o efeito, durante o corrente mês de Maio, de Hector Berlioz (1813-1869), já tivemos Romeu e Julieta, Sinfonia dramática sobre a tragédia de Shakespeare, op. 17, nos dias 9 e 10; de Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847), A Midsummer Night’s Dream, música de cena, em 16 e 17, e de Giusseppe Verdi (1813-1901), Falstaff, em versão semi-encenada, nos dias 23e 24 e, para finalizar, a 30, com Otello, em versão concertante, que repetirá em 2 de Junho.

Em diferentes fases do pleno período romântico em que viveram e trabalharam, também eles se deixaram prender por estímulos tão apelativos como os do legado do grande mestre isabelino. A nós, herdeiros de tão espectacular conjunto de artefactos culturais, apenas nos compete estar atentos e, se possível, usufruir de ensejos tão auspiciosos. ___________________________________________________________

* Para que, hoje em dia, se possa ter uma ideia do que era o ‘elitista’ ensino de então, lembrarei que, ainda no meu quinto ano do liceu, a professora de Inglês, Dra. Maria Helena Dá Mesquita, levava a minha turma ao British Council para ver uma adaptação ao cinema de The Importance of being Earnest de Oscar Wilde, que tínhamos lido nas aulas. É verdade, em 1963, alunos do Liceu D. João de Castro, conseguiam ver, entender e comentar um filme Inglês, sem legendas… Verifiquei agora ser dirigido por Anthony Asquith e interpretado por Michael Denison, Michael Redgrave, Dame Edith Evans, Dorothy Tutin, Joan Greenwood, e Margaret Rutherford.

**Apenas a título de exemplo, o interessantíssimo estudo Jung's Advice to the Players: A Jungian Reading of Shakespeare's Problem Plays, por Sally F. Porterfield, ed. Greenwood Press, Westport, 1994.

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Para uma sessão de quase três horas, gostaria de vos propor o visionamento de Henry the Eighth, peça de WS adaptada ao cinema, da colecção da BBC, filme realizado por Kevin Billington, com banda sonora de James Tyler.

Bom visionamento!


http://youtu.be/lZffDb4vLSE
 

sábado, 25 de maio de 2013





Gulbenkian,
uma nota absolutamente «vital»...


Ontem, durante o primeiro dos dois intervalos da récita de Falstaff, depois de ter estado com o meu amigo José Ferreira, o grande mestre das operações da Gulbenkian, que toda a gente conhece dos dias de concerto - desdobrando-se em atitudes discretas que fazem toda a diferença, em prol da qualidade do bem estar naquela casa de privilégio - fui até a
o jardim.

Como me desloco muito lenta e cautelosamente, saí a porta e voltei imediatamente à direita, na direcção do Museu. Ouvi um som que logo me encantou e, ainda que muito sumido, identifiquei em alvoroço. De facto, não me enganara. Meia dúzia de patinhos recém nascidos, dando que dando freneticamente com suas patinhas, evoluiam atrás de casais adultos, não percebendo eu, certamente por falta de discernimento, quem pertencia a quem...

Que bem tinha eu decidid! A exemplo do que costumo fazer sempre que posso, como detesto os intervalos, ontem, com um lindíssimo fim de tarde, também me escapei. Não hesitei diante do convite da luz das oito horas, muito coada. Que calma e beleza, no canto da urbe, que o bom gosto e saber de Gonçalo Ribeiro Telles ali nos comula.

Lá dentro, Falstaff, em versão concertante, não estava a honrar a grandeza dos autores, desde Shakespeare a Verdi e Boito. Mas, cá fora, a poucos metros do grande auditório, outra música era meu privilégio. Ninguém, absolutamente ninguém gozando cena de vida tão comovente e excitante.

Pouco depois, já dentro da sala, ao sentar-me, uma amiga veio saudar-me. Contei-lhe da cena dos patinhos. Perguntou-me se não tinha feito uma foto. Acreditem que me apeteceu bater-lhe com uma das minhas canadianas que ainda estava mesmo a jeito. Passou-me lá pela cabeça, perante encanto que tal, pegar no telemóvel para registar!...

Retive e retenho aquele momento «vital», de vida palpitante, de promessa, de música. Com estes gadgets da treta à mão, as pessoas só pensam em utilizar a própria poesia para fins mais ou menos mercantis, mesmo que não passem de tráfico para consumo pessoal. Que lástima!!...
 
 


Gulbenkian,
Falstaff sem grandeza


Tarefa dificílima e extremamente ingrata seria a incumbência de seleccionar os três grandes momentos do teatro lírico desde Monteverdi até aos nossos dias. Claro está que, só como mero exercício académico se aceita entrar num jogo que tal. Porém, uma vez aceite, não hesitaria partilhar uma convicção de muitos anos, ou seja, em pé de igualdade, colocaria Don Giovanni de Mozart, Parsifal de Wagner e Falstaff de Verdi.

Sei que até esto
u muito bem acompanhado nesta opinião radicada há muitos anos. Também por isso, dificilmente perderia a oportunidade de assistir a qualquer récita, mesmo concertante, de alguma destas três óperas e, não raro, já tenho acorrido a determinados teatros expressamente para o efeito. Ontem, depois de muito ter hesitado, porque ainda estou longe da recuperação da fractura, lá me decidi a ir à Gulbenkian.

Ainda muito periclitante, apesar de não alimentar qualquer expectativa, lá fui. Enfim, depois de dois meses de jejum de música ao vivo, jamais escreveria que terá ocorrido alguma particular ofensa a Verdi, Boito ou Shakespeare, os três grandes «responsáveis» pelo autêntico monumento que se apresentava no palco da Fundação. Não senhor. No entanto, tudo aconteceu ao nível mediano que, de modo algum, merece uma obra de máxima referência.

Como a mediania não implica qualquer destaque, pois não o farei em relação à récita de ontem. Ou, melhor, se algum destaque tivesse de fazer, seria negativo, para uma semi-encenação que nada beneficiou a versão de concerto. E a verdade é que, à partida, o material disponível, desde os solistas, à orquestra e ao coro, até poderia ter rendido muito mais a contento. Mas o maestro Lawrence Foster «não deixou»…

Já dei a entender que, ao dirigir-me à Gulbenkian, sabia perfeitamente o que poderia esperar. Mas como sou a mesma pessoa que já assistiu a récitas perfeitamente antológicas desta ópera, não consigo impedir que a memória se interponha. Claro está que, algo longe de Mutti ou de Abbado, maestros que têm subscrito horas memoráveis de Falstaff ao longo das suas carreiras, Foster, mesmo assim, poderia ter dado atenção a particularidades da direcção desta obra pelos seus colegas.

Não vale a pena entrar no detalhe de análise dos momentos em que, por questões do tempo imposto, quase sempre mais rápido do que o adequado, o maestro comprometeu a grandeza da proposta do compositor. Mas não resisto a chamar a atenção, no segundo acto, na estalagem, para o terrível acesso de ciúme de Ford ou, no terceiro, no Parque de Windsor, quando Falstaff se vê confrontado com um impressionante exército de espíritos e de assombrações que o atormentam. São apenas dois exemplos em que, um ritmo ligeiramente mais acelerado do que o conveniente, foi o suficiente para prejudicar o efeito pretendido pelo compositor.

Esta é, de facto uma ópera que exige pinças sofisticadíssimas para nela se pegar. Aqui, de modo algum, estamos perante As Alegres Comadres de Windsor, ópera cómica que, quarenta anos antes, Otto Nicolai tinha composto em puro estilo Biedermeier, obra puramente convencional, que o toque de génio de Verdi ultrapassa de longe. Até um crítico tão verrinoso como George Bernard Shaw, que apenas acedeu ao Falstaff de Verdi através de uma redução a piano, desfez-se em elogios, escrevendo que não é mera ópera mas um autêntico «drama musical», resultante da sobreposição dos génios de Verdi, Boito e Shakespeare, aproximando-a de Wagner. Apenas lembro esta apreciação porque, ontem, com Foster a dirigir, não estive perante a radical e absoluta grandeza que se depreende das palavras de Shaw, e, muito mais, me pareceu estar no ambiente de Nicolai…

Já que aludi a Abbado, não esqueço que, no quadro do Festival da Páscoa de Salzburg, em 2001, seu penúltimo ano à frente da Berliner, dirigiu uma fa-bu-lo-sa Falstaff, na encenação eficacíssima de Declan Donellan, entre outros, com Ruggero Raimondi (que também vi noutras produções da mesma ópera) no protagonista, Lucio Gallo em Ford Massimo Giordano, Fenton, Carmela Remigio ou Dorothea Röschmann, respectivamente em Alice Ford e Nannetta. Claro que jamais esquecerei a celebérrima última cena em que, com ritmo endiabrado, saltavam dezenas de pratos sobre a mesa que se ia desdobrando a toda a largura do palco do Grosses Festspielhaus. Enfim, outro planeta…

Finalmente, porque também referi Mutti, gostaria de vos propor um excelente registo da, récita completa, com os seguintes intervenientes: Ambrogio Maestri, Falstaff; Roberto Frontali, Ford; Juan Diego Florez, Fenton; Ernesto Gavazzi, Doctor Cajus; Paolo Barbacini, Bardolfo; Luigi Roni, Pistola; Barbara Frittoli, Alice Ford; Inva Mula, Nanetta; Bernadette Manca di Nizza, Mrs Quickly; Anna Caterina Antonacci, Meg Page; Walter Valdi, taverniere. A Orquestra e os Coros do la Scala, dirigidos por Riccardo MUTI, durante o Festival Verdi, em Busseto, no dia 4 de Outubro de 2001.

Boa audição!


http://youtu.be/kFDYgvZWKtg
 
 
 

quinta-feira, 23 de maio de 2013


quarta-feira, 22 de maio de 2013


Wagner, a Condessa e a Avó


Eis-me, novamente, em mais um 22 de Maio. As efemérides várias que só hoje se comemoram, andam a bailar-me na cabeça há semanas. Muito forte, esta é uma data em que não só se congregam mas também se confundem as celebrações da avó Júlia, de Richard Wagner e da Condessa d’Edla.

Como é meu hábito, celebro esta gente em Sintra. Faço-me ao caminho e vou até à Pena. Mesmo durante os anos em que permaneceu ruína galopante, era para o Châlet da Condessa que me dirigia. Por ali, sempre encontrei o ambiente propício à minha demanda. Agora, recuperados casa e jardim, diferente a festa.

É precisamente disso que escrevo, da procura e dos encontros. Começo pela avó. Partiu lúcida, com quase cem anos, já no princípio deste século. Sempre muito presente tenho a sua memória que, neste dia, é impossível não conjugar com a dos outros ilustres. Na Pena, a avó leva-me, pela mão. Não tarda muito, encontramos uma sombra, conversa-se e lemos. A avó é a pessoa que mais vezes eu vi ler antes de eu próprio começar a ler.

No ninho de amor, Elise. Leio-lhe um poema de Ruy Belo, de casas vividas. E percebo, sinto a presença da segunda mulher do Rei, a rainha da Pena. Chega-me ela, com a carga de desentendimentos de que foi pública vítima, mas em sossego. Vem, afinal e sempre, superior às desconsiderações de quem a amesquinhou. Ah, minha querida Emília Reis, que elegância a da «nossa amiga»!…

E que posso eu senão confirmar que Richard Wagner anda muito por ali, também de visita? Vejo Elise, lendo os poemas de Mathilde e ouço-a cantá-las para Fernando. Wagner íntimo, este dos Wesendonck, já ensaiando Tristan. Por ali, tal como o outro Richard, nos dá conta de como também muito o impressiona esta réplica do jardim do grande feiticeiro. Passada a prova das Blumenmädchen, logo nos espreita Parsifal.

Para mim, que caso tão sério este de celebrar Wagner! É coisa a que me habituei desde miúdo. Grandes wagnerianos eram o avô Albano - um bom pianista, que tocava imensas reduções ao piano de temas do grande compositor, nomeadamente as subscritas por Liszt - e meu pai, que não seguindo a carreira musical, tinha o curso superior de violino e ciências musicais. Ouvir tocar um e outro, escutar gravações de óperas de Wagner, em discos que o pai importava directamente para si e seus amigos, eram atitudes muito habituais, aquilo que poderia designar como verdadeiramente familiares.

De facto, tive esta sorte enorme. Mas, como já tenho contado, convivência tão precoce com o universo wagneriano, quase me afectava. Pelos meus treze, quatorze anos, deu-me para ouvir Tannhäuser obcessivamente. Vindo do Liceu, lembro-me de chegar a casa naquela mira de me fechar no quarto a ouvir, não só a avassaladora Abertura, mas também Geliebter, komm! ou Wie Todesahnung-O du mein holder Abendstern. A coisa atingiu tal dimensão que minha mãe chegou a temer pela minha sanidade mental.

Bayreuth, por onde peregrino há dezenas de anos, muito naturalmente, também é hábito que ganhei em família. Não, não sei se conseguirão imaginar o desgosto por não poder concretizar o projecto de lá estar, exactamente neste ano jubilar. Depois da fractura da perna, porque ainda estarei em recuperação, não será possível. De qualquer modo, Wagner é em qualquer lugar e quase todos os dias. Enfim, hei-de recuperar…

Ainda por ali, já noutra dimensão, pairando sobre a Pena, comungamos Parsifal.
É o Prelúdio do III Acto e o tema de Sexta-Feira Santa. Toca a Gustav Mahler Jugendorchester, sob a direcção do discretíssimo Daniele Gatti que tanto me tenho habituado a respeitar, numa gravação colhida em 26 de Agosto do ano passado durante os Proms.

Boa audição!

http://youtu.be/tJaztmR66-I
 

domingo, 19 de maio de 2013



Coadopção e adopção plena


A coadopção que, há tão poucos dias, foi favorável e maioritariamente votada no Parlamento, é um regime cuja entrada em vigor também me apraz. Pensaram os proponentes, e muito bem, nos superiores interesses de crianças que, já estando enquadradas em processos relacionais de casais homossexuais, não poderiam, por exemplo, ser prejudicados por morte de um dos seus progenitores biológicos ou adoptantes. Trata-se de um caso de humanidade, de uma atitude civilizacional que bem se integra na cultura que herdámos.

Muito diferente, no entanto, é o regime de adopção plena por casais homossexuais, havendo quem pensasse ser aquele um passo legislativo que poderia servir de trampolim para sua promoção, funcionando como corolário de um caminho iniciado com a legalização do «casamento» entre pessoas do mesmo sexo. Situo-me entre quem considera, como eu fiz, dever colocar entre aspas um termo cujo significado, sem quaisquer restrições, apenas se adequa aos casais heterossexuais.

Muito naturalmente, pensando também no superior interesse das crianças, é que me parece não haver quaisquer vantagens em prosseguir por um caminho cujo objectivo, para todos os conhecidos efeitos, era ter chegado ao desfecho que São Bento decidiu, e com o qual nos congratulámos no passado dia 17 de Maio. Pensar diferente seria aceitar a «estratégia do trampolim» que, de modo algum, consigo acolher, sequer como residual, na mente do legislador.

E, acreditem, para que tenha radicado esta opinião, muito me sustento na opinião de amigos homossexuais cujo último propósito para a oficialização da sua relação será, pura e simplesmente, o estatuto da união de facto que tudo, tudo lhes resolve. Acham que o casamento é um instituto que apenas se adequa aos heterossexuais e, pensando no superior interesse das crianças, jamais pretenderiam adoptar qualquer criança.

Não me venham dizer que estes meus conhecidos e amigos homossexuais, discretos, serenos e que baseiam as suas atitudes na porfia pela lucidez que reclamam, constituem uma cambada de conservadores e retrógrados e que os outros, também homossexuais, porque integram as paradas do orgulho arco-íris, dão nas vistas e procuram a comunicação social para fácil cobertura das suas causas, estes sim, são os grandes progressistas que fazem o mundo avançar…

Não tenho a menor dúvida de que haverá imensos casais homossexuais que adoram crianças e que poderiam cuidar de crianças muitíssimo melhor do que casais heterossexuais que são umas bestas, que se produzem e reproduzem como bestas que são. Mas o superior interesse da criança – que não tem qualquer vantagem na institucionalização, espera e tem direito aos seus pais adoptantes – vai no sentido de que neles encontrem, ‘de facto’ e ‘de jure’, o modelo de referência que é o da sua biológica origem.

Bem sei que há diferentes posições teóricas acerca desta questão dos referentes parentais. No meu caso, apesar de lhes aceder o mais isento possível de prejuízos mentais, não consigo concluir que, para a criança, seja exactamente a mesma coisa e, mais, que não haja qualquer vantagem ou desvantagem, em ser adoptada por homossexuais ou heterossexuais.

E, provavelmente, devido a esta minha «dificuldade de entendimento», ou se quiserem, prejuízo pessoal, é que também não fico mentalmente descansado quando, só para efeitos de análise, tento colocar-me na posição dos reais pais biológicos da criança, imaginando a sua reacção relativamente ao destino daquele filho que, não lhes tendo sido possível criar, seria adoptado por duas pessoas, cujo modelo de casal, nada tem a ver com o da origem biológica.

Afirmam e confirmam aqueles meus referidos amigos a circunstância de ser absolutamente infinitesimal o número de casais homossexuais que legalizaram a sua união através do casamento, facto bem demonstrativo, afinal, de como era muito residual a necessidade de que se reclamaram os seus promotores. Contudo, para que fique muito claro, o que o que eu penso e quero, tanto para os casais homossexuais como para os heterossexuais é que sejam todos, todos muito felizes. 

 Mas, além destes sinceros votos, impõe-se-me pensar, repito, tão somente, no superior interesse da criança. E, assim sendo, porque:

1.sei haver muitos médicos psiquiatras, pedopsiquiatras, pediatras, psicólogos, sociólogos, técnicos de várias especialidades que continuam mantendo dúvidas sobre a adopção de crianças por casais homossexuais; e 2. que mais vale prevenir do que remediar, julgo avisado não avançar com qualquer legislação, aparentemente «muito progressista», que possa fazer perigar os interesses dos garotos que, até generosamente, não duvido, pretenderia proteger.

E, a pensar nas boas horas em que embalei as minhas filhas e netos ao som deste tema, e sempre a pensar no bem estar de todas as crianças, eis o imortal Wiegenlied de Brahms pela voz extraordinária de Elisabeth Grümmer.

Boa audição!

http://youtu.be/6oBIJTnqXMg
 
 
 

sábado, 18 de maio de 2013




Aquilino Ribeiro, sempre!


[texto publicado na ed. de 17.05.2013 do Jornal de Sintra


Em 2013, passa meio século sobre a morte de Aquilino Ribeiro, um dos nossos imortais. Muito antes, porém,  da cerimónia do Panteão de Santa Engrácia, já ele ganhara a imortalidade. Conquistara-a pelo Amor, em todas vertentes, com que se jogou a uma vida eminentemente telúrica e apaixonada, pela Força das convicções e das decorrentes atitudes, sempre inequívocas, sempre grandes, francas e generosas, merecera-a pela Beleza que espalhou, vulcânica, a rodos, por quase setenta obras do mais alto gabarito.

Amor, Força e Beleza, eis o ritmo triádico da Arte, de que Aquilino tinha perfeita consciência, quando escreveu, à guisa de prefácio a Andam Faunos pelos Bosques, as seguintes palavras que, afinal, se aplicam à totalidade do seu fecundo labor:

 
"(...) O que fiz é honrado; não plagiei; não extorqui a jóia mais humilde ao mais invulgar dos escritores; não cedi às correntes que hoje são cortejos triunfais, amanhã depenadas Danças da Bica. Perdurei o que sou por temperamento, e adquiri por educação e algum estudo. Confesso essa soberba. Escrevi com o meu sangue; nunca molhei a pena na pia da água benta, nem nos lavabos perfumados das viscondessas. Arranquei as minhas figuras aos limos da terra, às mãos ambas, e amassei-as com a devoção de Machado de Castro ao mundo gnómico de seus presépios. Valem pelo que são. Criando, no sentido restrito do vocábulo, rendo como S. Francisco de Assis a minha homenagem ao Criador. (...)"

 
Que formidável Autor! Que belíssima afirmação de Autoria e de Autoridade! Que confiança, na qualidade das suas criaturas, figuras arrancadas aos limos da terra...

Celebração pessoal

Com que palavras e a quem agradecer por me proporcionar o convívio com a obra de Aquilino, obra que me orgulho de bem conhecer? Pois, primeiramente, ao próprio Aquilino Ribeiro, em páginas e páginas de sua sumarenta prosa, onde busquei e encontrei os vestígios, o testemunho de uma arte de ser, de uma arte de viver, que acabaram por crescer comigo, transformando-se num património imperdível.

Em segundo lugar, aos meus avós e pais, em cujas casas os livros ocupavam um lugar absolutamente determinante na vida de todos, livros herdados, livros que se iam comprando, livros que, é verdade, me habituei a cobiçar… É que eu via os mais velhos a ler, a ler, a comentar o que liam, às vezes a rir, outras a sorrir e, mesmo antes de saber ler, claro que já sonhava com o momento de os poder ler para perceber que gozo era aquele dos adultos.

Naturalmente, o Aquilino também andava lá por casa, acabando por me «ser apresentado», pelos meus treze anos, através de O Jardim das Tormentas. Ainda hoje, muita gente não considerará adequado a tão precoce idade. Pois li-o, mais ou menos pela mesma altura em que me 'apoderei' de O Crime do Padre Amaro – (mal) escondido, que também surripiei. Tenho a certeza de que o Eça não viu com maus olhos tal «vizinhança» literária… A verdade é que, juntamente com não sei quantas mais, tais obras iam assumindo contornos de via iniciática para outros voos, tão determinantes, para a minha vida.

Um pouco mais tarde, mas ainda antes da Faculdade, foi tempo de me aperceber, por exemplo, da importância de O Malhadinhas, tão universal como O Velho e o Mar de Hemingway, e de que A Casa Grande de Romarigães é uma grande alegoria deste país. Para esse entendimento, pressupondo leitura um tanto ou quanto mais sofisticada, contribuiu o imenso saber e entusiasmo de duas grandes senhoras, Manuela da Palma Carlos e Helena Dá Mesquita, minhas professoras no Liceu D. João de Castro, cuja memória está em mim tão presente como a dívida de que são credoras.

Ainda gostaria de acrescentar que tive o gratíssimo privilégio de conhecer e, periodicamente, de conviver com Aquilino Ribeiro Machado, filho do grande escritor, a quem me ligava uma afinidade nos grandes valores e princípios, fraternalmente partilhados, os quais, na sábia inteireza da sua atitude cívica, acabavam por coincidir com as grandes linhas de rumo que o pai havia traçado na sua cidadania exemplar.

Mágoas deste meu tempo

Grande mágoa de hoje é verificar como Aquilino Ribeiro não passa de perfeito desconhecido para as levas de estudantes das últimas três décadas. Sob o estigma do falsíssimo «carácter regional» da escrita aquiliniana – que, ao fim e ao cabo, apenas mascara a dificuldade de domínio de um léxico riquíssimo – está posta de lado, num sossego em que não deve nem pode estar, a obra deste grande cultor da Língua Portuguesa, vulto máximo da nossa Literatura.

Subtraiu-se aos jovens estudantes dos Ensinos Básico e Secundário a possibilidade de acederem a 
páginas e páginas de Aquilino, verdadeira Beleza ao alcance de um gesto. Esse gesto não acontece, fundamentalmente, devido a uma generalizada ignorância.

Tristemente verifico que, hoje em dia, quer os governantes, medíocres gestores do Sistema Educativo, enredados em estatísticas para inglês ver e em tlebs* para português confundir, quer uma grande maioria de professores, mesmo que pretendessem redimir-se de tamanho pecado de subtracção, até já não saberiam o que, onde, quando e como fazer a «reabilitação» do autor.

Portanto, se a ausência de Aquilino da Escola nos magoa, não deve surpreender. Talvez, daqui a uns anos, venham tempos mais propícios. Entretanto, nós que admiramos e sabemos como a sua Arte é imprescindível à Educação das crianças e jovens, não percamos a oportunidade de o fazer sentir, pelo menos, junto dos que estão mais próximos.

*Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário que, com a graça de Deus, foi providencialmente suspensa…

 

sexta-feira, 17 de maio de 2013



D. manuel Clemente,
Patriarca de Lisboa

Eis o segmento final do notável discurso que D. Manuel Clemente proferiu aquando da atribuição do Prémio Pessoa, evidenciando o homem de Cultura que é, capaz de radicar um optimismo militante, no conhecimento da realidade de um terreno que lhe é familiar em todas as vertentes:
 
"(...) O melhor de Portugal pouco aparece e não abre geralmente os noticiários. Mas existe e por ele mesmo continuamos nós a existir. Apesar de tudo, mas não apesar de nós. Em muitas escolas, estatais ou particulares, em muitos estabelecimentos de saúde, serviços públicos e instituições particulares de solidariedade social, deparamos com abnegações quotidianas e boas vontades que não esmorecem, antes parecem recrudescer no meio das dificuldades. Em muitos jovens licenciados há uma vontade de vencer e convencer, que consegue ultrapassar positivamente a escassez das ofertas de trabalho, criando para si para outros novas oportunidades, por vezes em domínios imprevistos ou pouco explorados. Assim como há empresários e gestores com verdadeiro sentido de missão, que revelam surpreendente capacidade de inovar e conquistar mercados, a par de reais preocupações com a manutenção e a criação dos postos de trabalho dos seus colaboradores.

Estas realidades, verdadeiramente tais, entre os fantasmas da excepcionalidade ou das massas, dão afinal pelo simples nome deste Prémio: referem-se à “pessoa”, a cada pessoa que nós somos, sempre com os outros e por vezes magnificamente. Significando isto cada um de nós, não abstractamente considerado, mas no concreto da sua vida e das suas relações, interpenetradas com as dos outros e com o respectivo meio.

Concluo com a inteira confiança nas pessoas que somos, os portugueses. E com a certeza firme de que, sendo verdadeiro objectivo do Estado e de todos os responsáveis sociais salvaguardar e promover a dignidade da pessoa humana, aumentaremos para isso as possibilidades materiais, culturais e espirituais existentes, que, no conjunto, constituem o nosso bem comum, na subsidiariedade e na solidariedade.

Assim acontecendo, a “história do futuro”, como António Vieira a entreviu, ultrapassará os seus melhores vaticínios. Sem imperialismos serôdios nem injustificáveis desistências, seremos um Portugal à altura de si mesmo, na grande largueza do mundo
.”
 
 

 


António Capucho,
candidatura a Sintra


António Capucho acaba de anunciar a sua candidatura à Presidência da Assembleia Municipal de Sintra em articulação com a de Marco Almeida à Presidência da mesma autarquia.

Acolho esta notícia com a maior simpatia e se me apresso a fazê-lo, por esta pública forma, com a independência de que me reclamo, é porque se trata de um político sério, senhor que pode conjugar e afirmar, com toda a propriedade, princípios e valores éticos irrepreensíveis, alguém que me habituei a respeitar em todo o seu percurso político, como deputado, autarca, membro do Governo e do Conselho de Estado.

Os mais sinceros parabéns pela decisão de António Capucho a quem não faltam méritos, dotes pessoais e experiência para aceitar este desafio.

quinta-feira, 16 de maio de 2013



Efeméride mozartiana,
Quinteto para Cordas, KV. 516

Acerca do terceiro andamento deste Quinteto, regista Tchaikovsky: “Ninguém [como Mozart neste andamento], jamais terá sabido interpretar através da música, tão sofisticadamente, o sentido da mágoa resignada e inconsolável”.


Em 16 de Maio de 1787 Mozart completava o seu Quinteto para cordas em Sol menor, KV 516, peça para dois violinos, duas violas e violoncelo, estruturada em quarto andamentos, I. Allegro,II. Menuetto: Allegretto, III. Adagio ma non troppo e IV. Adagio – Allegro.

Trata-se de mais uma estupenda peça em Sol menor, o tom em que Mozart melhor expressou tristeza e tragédia. É nesta tonalidade que lembramos o Concerto para Piano no. 1 e, no domínio sinfónico, a no. 25 e a famosíssima no. 40. É uma obra tão especial que não resisto a solicitar a vossa atenção para detalhes de audição que não podem deixar de ter em consideração.

Na forma sonata, o primeiro andamento apresenta dois temas que, começando em Sol menor, não se resolvem no tom maior da recapitulação, terminando em tonalidade menor. Colocado em segundo lugar, o Menuetto só na designação é um minuete já que o turbulento tema em Sol menor, com pesados acordes de terceira, o tornam impraticável para dança. O seu trio central é um brilhante Sol Maior. O terceiro andamento, em Mi bemol Maior é lento, melancólico, ansioso, subsequente ao desespero trazido pelos andamentos anteriores.

É acerca deste andamento que contamos com um dos mais expressivos testemunhos que um compositor poderá ter deixado escrito acerca da música de outro. Regista Tchaikovsky: “Ninguém [como Mozart neste andamento], jamais terá sabido interpretar através da música, tão sofisticadamente, o sentido da mágoa resignada e inconsolável”.

A terminar, o começo do quarto andamento, de modo algum, é o típico tempo rápido final mas uma lenta cavatina que, retomando a tonalidade de Sol menor, é um lamento mesmo mais lento do que o andamento anterior. Permanecemos nesta atmosfera durante alguns minutos antes de uma pausa avassaladora. De repente, Mozart salta para o efervescente Allegro em Sol Maior, provocando um fortíssimo contraste como pode o compositor os andamentos anteriores. Ainda hoje continuamos a perguntar como pode ter Mozart resolvido esta obra com um final tão aparentemente «descuidado» depois de um tão intenso pathos anterior. Mozart, dual, genial, inesperado…

A interpretação que vos proponho é a de Cornelia Löscher, Benjamin Bowman, Michel Camille, Steven Dann, Anssi Karttunen, no contexto da 13ª edição do Festival Internacional de Música de Câmara de Esbjerg, Dinamarca, em 2011, ocasião anual estupenda, geralmente considerada como única, para a partilha da música de câmara. Sente-se o ambiente de partilha. Muito gostaria que se deliciassem com esta obra tão singular.

Boa audição!


http://youtu.be/P6N2Fo5BWu0

quarta-feira, 15 de maio de 2013




Kathleen Ferrier,
o portento


 
Há precisamente oito dias, introduzindo a interpretação de Ferrier de um dos Kindertottenlieder de Gustav Mahler, perguntava eu se ainda se lembravam do que era uma voz de contralto. De facto, a sua é «a» voz de contralto, o paradigma a que podemos recorrer e, felizmente, confirmar através das gravações que nos deixou.

Para que se tenha uma pequena ideia do altíssimo gabarito de Ferrier no mundo da grande Música, basta lembrar que o «monstro sagrado» que foi o Maestro Bruno Walter afirmou que os maiores privilégios da sua vida tinham sido conhecer e trabalhar com Kathleen Ferrier e Gustav Mahler, precisamente por esta ordem.

Em apenas dez anos de carreira, Kathleen Ferrier (22.04.1912–8.10.1953), alcançou a maior reputação internacional, com um reportório que se estendia da canção folclórica às obras clássicas de Bach, Brahms, Elgar, Mahler ou Britten. No auge da fama, apenas com 42 anos de idade, viria a morrer de cancro da mama, numa altura em que as doenças de quem ocupava as luzes da ribalta não constituíam particular motivo de notícia, razão pela qual o seu tão precoce desaparecimento causou o maio choque.

Filha de mestre-escola de uma aldeia do Lancashire, evidenciou especiais dotes de pianista, tendo conquistado inúmeros prémios como artista amadora em concursos, ao mesmo tempo que trabalhava como telefonista. Só a partir de 1937, depois de ter vencido um prestigiado concurso de canto do Festival de Carlisle, começou a receber convites para compromissos de carácter profissional.

Estudou canto com J.E. Hutchinson e, mais tarde, Roy Henderson e, depois do início da Segunda Grande Guerra, foi contratada pelo Council for the Encouragement of Music and the Arts (CEMA), tendo realizado concertos e recitais por toda a Inglaterra. Em 1942, Malcom Sargent recomendou-a à Ibbs and Tillett, uma das mais influentes agências de artistas, tendo-se tornado presença permanente nos eventos principais, participando também em inúmeras emissões de rádio da BBC.

Em 1946, apresentou-se no Festival de Glyndebourne Festival na estreia da opera The Rape of Lucretia de Benjamin Britten. Um ano depois apareceria, pela primeira vez, como Orfeo, em Orfeo ed Euridice de Gluck, obra à qual ficaria indelevelmente ligada. Estabeleceu as mais fortes relações profissionais com figuras máximas do mundo musical, tais como Britten, Sir John Barbirolli, Bruno Walter ou Gerald Moore. Duas viagens aos Estados Unidos, entre 1948 e 1950, bem como concertos por toda a Europa tornaram-na famosa.

Infelizmente, em Março de 1951, ser-lhe-ia diagnosticado cancro da mama. Períodos de hospitalização e convalescença não a impediram de continuar a actuar e fazer gravações, registando-se a sua última subida ao palco, oito meses antes da morte, em Fevereiro de 1953, como Orfeo na Royal Opera House. 

 Em sua homenagem, logo em Maio de 1954, foi fundado o Kathleen Ferrier Cancer Research Fund e, desde 1956, o Kathleen Ferrier Scholarship Fund, administrado pela Royal Philharmonic Society, vem atribuindo prémios e bolsas anuais a jovens cantores com carreiras profissionais promissoras.

Como já devem ter calculado, para mim, Kathleen Ferrier é uma das referências máximas do canto lírico de todos os tempos. Ainda ontem, conversando com o meu querido amigo, Dr. José Luís Carvalho Cardoso - pessoa respeitadíssima no meio musical, por exemplo, fundador e Presidente do Círculo Richard Wagner de Lisboa - coincidíamos na certeza, em que também radica a opinião de outros distintos melómanos, de que, passados tantos anos, Ferrier continua inultrapassável.

Em especial homenagem ao Dr. Carvalho Cardoso, que tenho como diário leitor dos meus textos - e lembrando um particular momento do nosso tão interessante diálogo - aqui trago esta voz sublime na interpretação do papel que a celebrizou. Trata-se de uma versão reduzida em que, além de Ferrier, no Orfeo, Ann Ayars faz a Euridice e Zoe Vlachopoulos  Amore. O Coro é o do Festival de Glyndebourne, Fritz Stiedry dirige a Southern Philharmonic Orchestra.

Boa audição!

http://youtu.be/kxkqAeN4RVk