[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014



Uma justificada insistência 

[Facebook, 25.02.2014]

Gulbenkian,
24 de Fevereiro de 2014, 19.00

MusicAeterna
Orquestra e Coro de Câmara do Teatro
de Ópera e Ballet Tchaikovsky de Pern

Teodor Currentzis, Maestro


Anna Prohaska, soprano (Dixit Dominus e Dido)
Tobias Berndt, barítono (Eneias)
Eleni Lydia Stamellou, soprano (Belinda)
Nadine Koutcher, soprano (1ª Bruxa)
Daria Telyatnikova, mezzo (2ª Bruxa)
Victor Shapovalov, baixo (Marinheiro)
Valeria Safonova, soprano (Espírito)

Fiz questão de publicar a fixa do evento porque houve alterações em relação à inicialmente anunciada. Como tenho pouco tempo, apenas gostaria de sublinhar que sobejas razões me assistiam quando, no passado domingo escrevia “(…)precisamente amanhã, na sacrossanta Gulbenkian, pelas 19.00, teremos um concerto daqueles que, de modo algum, qualquer melómano jamais poderia perder. (…)” Como a casa estava a cerca de dois terços, tirem as vossas conclusões que, para o «peditório» dos designados ‘melómanos de Lisboa’, já dei o que tinha a dar…

Digo-vos que, depois de um “Dixit Dominus”, perfeitamente antológico, o público estava totalmente rendido à prestação dos MusicAeterna. Aplausos, muitos, bravi justíssimos, premiando uma leitura irrepreensível. Em termos vocais e instrumentais, intérpretes galvanizados e em perfeita sintonia com um maestro que, na sua exuberância, é uma verdadeira bênção. Um serviço a Händel do mais alto gabarito.

Durante o intervalo, as conversas confirmavam as impressões que, grosso modo, acima vos dei conta. Amigos e conhecidos empolgados, a festa da música já se fazia antes de terminar a função. Seguidamente, “Dido and Aeneas”, pièce de résistance. Coloco a récita concertante de ontem, sem qualquer dúvida, entre as melhores propostas a que já assisti. Percebe-se todo o trabalho a montante, naturalmente, em analogia com o labor de outros colegas, beneficiando Currentzis das mais recentes investigações acerca desta obra do século dezassete, no âmbito das abordagens historicamente trabalhadas por Harnoncourt, Jacobs, etc.

A nível vocal, gostaria de destacar Anna Prohashka, soprano do mais alto gabarito que acompanho há já alguns anos, nomeadamente, em elencos enquadrados por Harnoncourt, que fez uma Dido muito convincente, bem como Maria Forsström , meio soprano, uma Feiticeira memorável. Sei que estou a fazer uma injustiça em relação a outras prestações mas, se é para destacar, então terá de ser assim. A Orquestra de Câmara e o Coro estiveram ao melhor nível possível. Em Perm, lá para os Urais, estão de parabéns.

Estivemos perante uma leitura muito inteligente, com ‘tempi’ e pausas, que adensaram os resultados procurados a nível da acústica, através de efeitos deveras sofisticados que, só na sala de concertos, se consegue partilhar em pleno. Uma palavra sobre o público desta série de concertos, que é muito especial, em muitos casos, o mesmo que reencontro, como há trinta, vinte anos, do tempo em que a Gulbenkian tinha uma temporada de ‘Música Antiga’.

Ontem, estávamos lá todos. Ao lado da minha mulher e de colegas da Faculdade, que nos conhecemos há cinquenta anos, sempre nestas lides e, constantemente expectantes, despertos e dispostos ao fascínio de interpretações como a que ontem tivemos o privilégio. Que bom é sentir esta afinidade, a alegria na partilha da grande Música. Claro que tudo isto só é possível nesta nossa casa da Avenida de Berne.
 
 

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