[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 21 de agosto de 2014



O desassossego da guerra





 Hoje, pelas 17.30, no Royal Albert Hall, uma grande obra contemporânea cujas circunstâncias ultrapassam os limites temporais da celebração pretendida pelo próprio compositor. Trata-se de "War Requiem", de Benjamin Britten, numa interpretação a cargo de Susan Gritton (soprano), Toby Spence (tenor), Hanno Müller-Brachmann (barítono), BBC Proms Youth Choir, City of Birmingham Symphony Orchestra, sob a direcção de Andris Nelsons.

Datado de 1962, este
... "War Requiem", op. 66, tal como" Ein Deutsches Requiem" de Johannes Brahms, é uma obra não-litúrgica que, portanto, não segue o Ordinário da Missa de Defuntos. No suporte textual, poemas de Wilfred Owen servindo uma obra para as vozes solistas de soprano, tenor e barítono, coro, órgão e duas orquestras, uma das quais de câmara.

Oxalá possam ouvir os Proms, em directo, daqui a pouco. Entretanto, para quem não consiga ou não possa, aqui tem uma gravação colhida, ao vivo, no concerto de encerramento do Festival Schleswuig-Holstein, em 1992. A interpretação do Coro e Orquestra Sinfónica da Rádio do Norte da Alemanha, sob direcção de Sir John Elliot Gardiner é, provavelmente, a melhor que conheço. Como verificarão, trata-se de uma sucessão de momentos inolvidáveis.

Por favor, reservem-se o mais possível, com o tempo e ambiente necessários. A guerra. Infelizmente, permanente. Ainda ontem, hoje mesmo. Tal como o nosso querido Padre António Vieira no-lo lembra no famosíssimo excerto do “Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”:


“(...) É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro”.



Boa audição!
http://youtu.be/GHNgfF19CTY

Benjamin Britten - War Requiem



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