[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 28 de setembro de 2014



Odeceixe [VIII]

[facebook, 27.09.2014]

Na realidade, perante tantos e bons desafios diários, mal me sobra tempo para escrever e partilhar convosco estas notas apressadas. Porque assim é, apesar desta «pasmaceira» de Odeceixe que a Ana Maria e eu tanto gostamos, vou correndo o risco de passar por cima de episódios, porventura curiosos.

É o que ia acontecendo com esta história. Não parece possível que, algo insólita, e já de anteontem, ainda a não tivesse contado. Enfim, passo a remediar a situação. ...Estávamos muito bem sentados, aí com uns trezentos metros de areal à nossa frente, até às primeiras ondinhas, naquele momento em que a maré, de tão vazia dois dias depois do equinócio, não se imagina como o outro lado do mundo possa ter recebido tanta água…

Eram umas onze da manhã. Ao fundo, à direita, a meia distância da foz da ribeira, a preto e verde, nos seus uniformes, esguios, jovens e desenvoltos, evoluíam os aprendizes de surf, em manobras de aquecimento à voz do monitor. Cena habitual esta que faz parte do quotidiano de Odeceixe, praia também famosa pela prática da modalidade.

A certa altura, um tipo bastante avantajado passou perto, ao nosso lado. Primeiramente, chamou a minha atenção o grande malão metalizado que transportava na mão direita e, ainda mal me tinha posto a imaginar o que poderia ir no baú, reparei na esquerda. Recolhida à altura do peito, com a palma para cima, segurava aquilo que me pareceu um aeromodelo. Branquíssimo. Avançou uns cinquenta metros e postou-se. Pareceu que ficara grudado.

Não me perguntem como ou porquê mas logo adivinhei – é o termo, já que, no objecto, nada o distinguia de um aviãozinho – tratar-se de um drone. Nem dois minutos teriam passado, munido de um comando que eu não consegui distinguir, o homem avantajado começou a trabalhar. O grupo de surfistas instruendos era o seu objectivo de reportagem.

Sobrevoou-os a diferentes alturas, de todos os ângulos possíveis, dentro e fora de água. Em poucos minutos, o 'escravo' colheu imagens de uma sessão de surf que, em circunstâncias habituais, feitas pelos processos tradicionais, levariam muito mais tempo e, naturalmente, resultariam muito mais onerosas.

Cerca de uma hora depois, o tipo avantajado saíu de cena, tal como tinha entrado, com os mesmos adereços, ocupando as mãos exactamente da mesma maneira. E, no interior da mala, o que levaria? Mistério... Ninguém o incomodou, não suscitou qualquer tipo de curiosidade. Estou mesmo em crer que, surpreendido, considerando o episódio insólito, só mesmo eu.

 

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