[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014



Missa vespertina...


Hoje à noite, novamente, na Haus für Mozart, récita de "Orfeo ed Euridice", a ópera de Gluck a que assisti no passado dia 23. Portanto, como não vou repetir, tenho uma «folga»...

Como sou muito «religioso» - neste cas
o com as apas que se impõe porque, apesar de verdadeira, a sentença pretende ser irónica - aproveitando o tempo extra, que tal a proposta de uma ida à Missa?

É que, estava aqui a escrever outras linhas, quando me lembrei ter sido, precisamente, a "Credo Messe", KV. 257 de Mozart, a primeira Missa que ouvi em Salzburg, na Catedral, quando aqui vim pela primeira vez. Naturalmente, fez-me uma impressão incrível a qualidade da interpretação, com um coro, orquestra, solistas absolutamente impecáveis. Sabia ao que vinha, o que podia esperar mas, presencialmente, ultrapassou toda a expectativa. Enfim, foi há muitos anos.

Se ainda estão lembrados do meu «relatório» do passado domingo, foi esta a obra que também se tocou e cantou na igreja dos franciscanos nesse dia. Com todo este enquadramento, já sabem que peça aí vem.
A escolha desta gravação tem o seu significado.

É verdade que poderia ter escolhido uma «mais profissional». Se decidi propor esta é porque se trata de um grupo praticamente amador de Gessate, cidadezinha italiana de mais ou menos 5.000 habitantes, igual a tantas outras da Lombardia onde é possível produzir algo com esta qualidade.

Bastou que um padre lá do sítio comemorasse 25 anos de sacerdócio para que pudessem abalançar-se à concretização deste projecto de tocar - também há um Conservatório local... - e cantar uma missa sofisticada que só está ao alcance de gente educada, informada e culta. Tão simples como isto. Bem, por aqui me fico para não entrar em comparações com o canto mais a sudoeste europeu...

Boa audição!


http://youtu.be/Idyi6cAo2Wg


[‘In Memoriam’, o texto que passo a transcrever da edição de hoje do ‘Jornal de Sintra’, é resultado do aproveitamento de dois posts no mural fabook, datados do passado dia 27, intitulados ‘In Memoriam’ e ‘Ainda a propósito’. Quem os leu, terá agora uma inicial sensação de ‘déja lu’ mas, se continuar, verificará que não só houve revisão como adaptação e nova matéria]

In memoriam*


Há muitos anos,
passo o 27 de Janeiro sempre em Salzburg. É altura do Festival de Inverno, que coincide com a semana em que se comemora o aniversário natalício de Wolfgang Amadeus Mozart – como sabem, o mais famoso filho da cidade – por isso se designando Mozartwoche [Woche = semana] ainda que se prolongue por quase uma quinzena.

Para os leitores que, há mais tempo, me acompanham através das páginas do Jornal de Sintra, esta referência é muito familiar já que, em anos sucessivos, directamente de Salzburg, quer por esta altura quer pela do Festival da Páscoa, escrevi aqueles que, em toda a imprensa portuguesa, foram exclusivos artigos de crítica musical sobre tais iniciativas.

Não deixa de ser curioso que tendo Mozart nascido em 27 de Janeiro (1756), este também seja um dia em que se comemora outra efeméride relacionada com o universo musical, ou seja, a da morte (1901) de Giuseppe Verdi, mais um nome máximo da Música. De qualquer modo, não é acerca dos dois grandes compositores que hoje me proponho partilhar convosco estas linhas. É que, de facto, faz muito sentido recordar um outro evento, também coincidente com 27 de Janeiro.

Se acrescentar o ano de 1945, entenderão que me reporto ao fim da guerra e, mais especificamente, à data da libertação do campo de extermínio – já a designação é um horror!... – de Auschwitz-Birkenau. Foi ontem. Quase setenta anos? É nada, um sopro de tempo histórico. Era ontem quando havia este e outros campos de extermínio, campos de concentração, campos de trabalho. “Arbeit macht frei”, lembram-se? Pois, em campo de trabalho, o trabalho liberta. Entretanto, irreversível, o escândalo continua a desafiar a explicação. Porque o Homem, na realidade, foi capaz, é capaz.

Hoje, 27 de Janeiro, mais uma vez, um conselho que, da minha parte, já se tornou recorrente. Leiam O Mundo de Ontem, Memórias de um Europeu. O seu autor, Stefan Zweig, viveu aqui em Salzburg, entre 1919 e 1934, numa casa em Kapuzinenberg, que vejo deste quarto onde vos escrevo já que, St Sebastian, o meu poiso durante as estadas na cidade, fica na Linzer Gasse, mesmo na base do referido monte, apenas à distância de umas poucas dezenas de metros em altura.

Vou lá muitas vezes e, hoje também, vim de lá há pouco. In memoriam. Como nem tamanha proximidade do famoso e excelente escritor nem as peregrinações ali acima tiveram qualquer benéfico efeito sobre a prosa deste vosso escriba, ao menos aceitem aquele meu conselho. Ponham de lado estas linhas e procurem ler, isso sim, a obra do mestre cujas deambulações e tremendo périplo, que não acabou bem, tudo têm a ver com a efeméride de Auschwitz-Birkenau e com as barbaridades por lá levadas a cabo.

A primeira pedra

Tais barbaridades, se bem as quisermos entender, são apenas parte de um novelo muito complicado que, na sua quota parte de responsabilidade, uma série de povos europeus envolvidos nos seus fios, afinal, não os assumem com mais facilidade que os próprios alemães.

De facto, alemães eram os comandantes dos campos, como alemão era o Estado Maior que tudo geria. Mas, então, os colaboracionistas, em toda a Europa, cuja face mais descarada é a da França, através do governo de Vichy, que representava a esmagadora e silenciosa maioria dos franceses, e que enchia vagões e vagões com famílias de judeus, alimentando os fornos crematórios de tais campos? E o mesmo não acontecia a Norte, ao Sul, e do Leste ao Oeste de todo o velho continente?

Não coincidente, mas no mesmo contexto, que histórias já foram contadas, e quantas haverá por contar, sobre a actuação dos fascistas portugueses, espanhóis e italianos, bem como do genocídio de tantos milhões de cidadãos na Rússia Soviética? Tudo isto nos envergonha porque, nós, Homens – portanto, eu e vós – somos assim, capazes das maiores barbaridades, ainda que semideuses, em termos prometaicos.

Não, não são os outros, não são os alemães. Somos todos assim. A semente que nos gerou também compreende uma vertente de malignidade, temível quando encontra terreno fértil. Nós, portugueses, por exemplo, que pedra poderemos atirar aos alemães? Só porque os campos foram ontem ou anteontem, há setenta anos? Bem podemos limpar as mãos à parede, com as históricas barbaridades que concretizámos, em todas as latitudes, durante séculos, nada nos consolando o facto de os outros terem feito o mesmo...

Muito menos atinente a justificação com o entendimento epocal contemporâneo de tais barbaridades. Não colhe porque, entre outros, o Padre António Vieira defendeu os direitos humanos dos povos indígenas, combatendo a sua exploração e escravização, e também os judeus e a abolição da escravatura. Leia-se o Sermão do Espírito Santo. Não se encha a boca com as redondas palavras de que ele cultivou o melhor Português… Não, é preciso ler Vieira para perceber quem somos e quem fomos, quais as barbaridades de que fomos e somos capazes, antes e, naturalmente, também depois do século dezassete e até à actualidade.

Luto e exorcismo

Os alemães, as novas gerações de alemães - e não caiamos na tentação de confundir povo alemão com o actual governo alemão, aliás, como não pode nem deve confundir-se povo português com o actual governo português, apesar de, em ambos os respectivos países, vigorarem Estados Democráticos de Direito, em que os governos decorrem de actos eleitorais livres e democráticos – os alemães, escrevia eu acima, estão a viver um complicado processo de exorcismo dos fantasmas do nazismo.

Não tenhamos dúvida de que tal luto, o exorcismo em questão, a catarse, o mais prosaico lamber das feridas, ainda vai durar muito tempo. A atestá-lo, veja-se a Arte que têm produzido nas últimas décadas, o Teatro, a Ópera, a Literatura, as Artes Plásticas, o Cinema, testemunhando e bem demonstrando como assim tem sido e é algo em curso.

Nós, que tanta dificuldade temos em fazer coisa análoga relativamente a outras cenas que tanto nos envergonham, o mínimo que podemos é ir acompanhando o seu longo e difícil caminho, sem precipitados juízos de valor, respeitando o processo alheio. Tentar ser civilizado, embora tenha um preço altíssimo, está ao alcance de todos. Pelo menos, tentemos.

Horizonte longínquo

Há tanto caminho ainda por fazer nesta Europa que herdámos dos pais fundadores com o objectivo de concretizar a Confederação política de Estados que ultrapasse a actual dimensão de União pouco mais do que económica. Querem um exemplo atestando como as nossas cabeças ainda nada mudaram?

Se é suposto, ainda que portugueses e com muito orgulho, que na União Europeia, nos sintamos, igualmente, espanhóis, italianos, franceses, britânicos ou austríacos e alemães, como continuamos a afirmar que emigram os nossos filhos, sobrinhos e netos, quando «apenas» partem à procura de trabalho nos países europeus de cuja União o nosso é parte integrante, e onde todos os cidadãos têm os mesmos direitos, inclusive o do acesso ao trabalho, em condições semelhantes às dos naturais de cada país?

Trata-se «apenas» de um pequeno exemplo que poderia emparceirar com muitos outros. A construção europeia ainda vai demorar muito tempo. Já tem séculos a montante e, provavelmente, ainda a esperam séculos a jusante. Demorará o tempo que for necessário para que se atenuem os nacionalismos exacerbados que, ainda ontem, nos conduziram à luta armada. É preciso que passe o tempo para que as cabeças se ajustem aos sonhos dos demiurgos que foram Konrad Adenauer, Robert Schumann ou Paul-Henri Spaak.

Finalmente, em tempo de efemérides, ocorre-me um episódio cujo alcance ultrapassa as barreiras do tempo. Foi quando, ao dizer Ich bin ein Berliner, John Kennedy afirmava a solidariedade dele próprio e do mundo com o cidadão da capital dividida pelo Muro da Vergonha e, por inerência, assumindo a perspectiva de cidadão alemão. Para isso e por isso, se expressou em Alemão. Inequívoco. E para sempre. Pois bem, nós, com ele. E. por termos derrubado o muro, ainda mais berlinenses e alemães somos…

*Texto escrito em Salzburg, no passado dia 27 de Janeiro.

[João cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]




Kristian Bezuidenhout,
Sonatas para Piano de Mozart


Na Mozartwoche 2014, tivemos dois recitais deste excepcional pianista, ambos na Aula Magna da Universidade de Salzburg, um dos quais vos dei conta. Como concordo
totalmente com esta apreciação acerca de Kristian Bezuidenhout, nada acrescento:

"Kristian Bezuidenhout plays Mozart on the fortepiano like no-one else. ... He performs...with all the sensitivity, expressivity, flair and stylistic integrity that has marked him out as a supreme master of the early keyboard. ...the tone is vibrant, the music thoroughly engaging, and the genius of Mozart is brilliantly and eloquently served." (The Scotsman, UK, review of Volume 3)

Apesar de fazer parte da promoção comercial de uma etiqueta discográfica muito conhecida dos melómanos, escolhi a gravação seguinte porque, além de vos proporcionar um vislumbre da sofisticação de Bezuidenhout na abordagem das Sonatas de Mozart, também vos oferece a oportunidade de perceber que tipo de pessoa ele é, a educação e os meios da casa onde nasceu, a sua relação com o universo mozartiano, etc. É um trabalho de síntese mas fornece pistas suficientes.

Aproveito a oportunidade para anunciar que - mais uma vez, numa iniciativa a todos os títulos de enaltecer, a Parques de Sintra Monte da Lua, contando com a especial assistência de Massimo Mazzeo, Director da Temporada de Música no Palácio de Queluz subordinada ao título "Tempestade e Galanterie" - este grande artista estará no próximo dia 12 de Março entre nós, beneficiando todos os amantes da boa música.

Boa audição!
http://youtu.be/TWADEJ2YGtA






SALZBURG, 30.01.2014 (2)]



Hoje, de manhã, anunciei o programa das festas, tendo tido o cuidado de salvaguardar que, para já, apenas me referiria ao concerto da noite. Espero compreendam que os eventos musicais e de outra natureza são muitos e variados, apenas sobrando umas migalhas de tempo para pôr umas impressões em comum.

Para que tenham ideia do que me está a acontecer com a disponibilidade

de tempo, em muitos anos de Salzburg, quer na Mozartwoche quer no Festival da Páscoa, este é o primeiro em que não estou a conseguir manter o meu diário actualizado no próprio dia a que me reporto. Isso causa-me algum transtorno porque o diário me exige uma disciplina férrea, uma preocupada gestão do tempo. Muito dado às auto-concessões, com argumentos enroupados da melhor lucidez, com o diário não tenho hipótese. Haja o que houver, o registo é sagrado. Pois bem, em 2014, durante o Festival de Inverno de Salzburg, não está a ser nada fácil…

Grosse Saal do Mozarteum, sala esgotada. Por todo o lado, imensos britânicos, ingleses e escoceses principalmente, que se reconhecem bem pelo ‘accent’. Razão? Tocava a Orquestra de Câmara Escoces sob a direcção de Robin Ticciati, coqueluche dos jovens maestros da actualidade que, com trinta anos, já tem um passado «em cima» que parece impossível.

Haja em consideração que se estreou aqui em Salzburg, precisamente na Mozartwoche, em 2007, três anos apenas depois de ter terminado os estudos. Ora bem, importa salientar que, senhor de um talento e sensibilidade fora do comum, foi um protégé de Sir Collin Davis e de Sir Simon Rattle. Na grande Arte, quando os grandes mestres «protegem» um jovem valor que desponta, é muito bom sinal, o reconhecimento de um talento que deve ser potenciado ao máximo, o que nada tem de pejorativo. Enfim, para os invejosos, coitados, alguma coisa terá. Para esses, infelizmente, não há remédio…

Vai no quinto ano de maestro titular da Scottish Chamber Orchestra e, desde o princípio deste ano, sucedendo a Vladimir Jurowski e Bernard Haitink, é o director do sofisticado Festival de Ópera de Glyndbourne. Tem compromissos com as melhores salas de ópera de todo o mundo, desde La Scala de Milão, Covent Garden, ao Metropolitan de Nova Iorque e ao Festival de Salzburg.

Tivesse eu comigo os exemplares do diário referentes aos meses de Janeiro e de Fevereiro de 2007 e poderia transcrever, nos precisos termos, a belíssima opinião que formulei quando o vi dirigir pela primeira vez, percebendo que tipo de profissional da música ele é, não só ali, no palco, mas, essencialmente, durante os ensaios. Não tem «tiques» especiais, cultiva uma postura muito discreta, diria ‘conservadora’ no melhor sentido, e percebe-se perfeitamente que está empenhado num projecto comum com os «seus» músicos.

Não quereria reduzir os meus comentários ao concerto, referindo-me apenas a Ticciati. Cumpre, naturalmente, ter presente o programa que incluiu ‘Sextett’ (Prelúdio) da Ópera “Capriccio” de Richard Strauss; Concerto em Dó Maior para Piano e Orquestra, KV. 503 de Mozart; “Cantus in Memory of Benjamin Britten” e a Sinfonia No. 5 em Dó menor de Beethoven.



Destacarei, como nota menos positiva o Concerto para Piano que teve em Paul Lewis um intérprete apenas mediano, com um touché demasiado duro, resultando, em geral numa interpretação com alguma falta de souplesse. E, francamente gratificante a interpretação da Quinta Sinfonia de Beethoven em que Ticciati teceu um dos trabalhos mais interessantes a que já assisti no domínio das dinâmicas.

Registei verdadeiras «inovações» de leitura que deixaram alguns espectadores à minha volta com olhar algo perplexo mas que, na altura de s manifestarem a avaliação, não regatearam os mais efusivos aplausos e, significativamente, como melhor sinal, uma valentíssima pateada. Verdadeiramente excepcional, aliás, como tem sido geralmente considerada esta proposta sob a direção do jovem maestro, com a qual a SCO tem feito tourné por ocasião do seu 40º aniversário.

Como Arvo Pärt e Richard Strauss também mereceram exemplar trabalho da orquestra, posso concluir, apesar daquela nota menos interessante relativa a Lewis, ter sido mais um momento alto da Mozartwoche
.





[Salzburg, 30.01.2014(1)]


1.Agora, às 11,00, Recital de Daniel Barenboim na Grosse Saal do Mozarteum. Vai interpretar, de Mozart, o ‘Adagio em Si menor’ KV. 540, o ‘Menuett em Ré Maior’ KV 355, a ’Gigue em Sol Maior’, KV. 574; de Richard Strauss “Stimmungsbilder” op. 9 –TrV 127 e, de Schubert, a Sonata em Ré Maior op.53 – D 850 ‘Gasteiner’. Como ainda o verei, mas como Maestro, no próximo grande concerto da Orquestra Filarmónica de Viena, então, farei uma súmula da sua actuação durante a Mozartwoche.

Logo à tarde, na Aula Magna da Universidade, o segundo recital de Besuidenhout, em pianoforte, para a execução de mais um conjunto de sonatas de Mozart, pianista de cujo sucesso, no mesmo local, vos dei conta anteontem.

À noite, na Grosse Saal do Mozarteum, a Scottish Chamber Orchestra, sob a direcção de Robin Ticciati, um dos mais promissores jovens maestros da actualidade. Como vêem, «não estamos nada ‘mal servidos»…
l numa interpretação com alguma falta de souplesse. E, francamente gratificante a interpretação da Quinta Sinfonia de Beethoven em que Ticciati teceu um dos trabalhos mais interessantes a que já assisti no domínio das dinâmicas.

Registei verdadeiras «inovações» de leitura que deixaram alguns espectadores à minha volta com olhar algo perplexo mas que, na altura de s manifestarem a avaliação, não regatearam os mais efusivos aplausos e, significativamente, como melhor sinal, uma valentíssima pateada. Verdadeiramente excepcional, aliás, como tem sido geralmente considerada esta proposta sob a direção do jovem maestro, com a qual a SCO tem feito tourné por ocasião do seu 40º aniversário.

Como Arvo Pärt e Richard Strauss também mereceram exemplar trabalho da orquestra, posso concluir, apesar daquela nota menos interessante relativa a Lewis, ter sido mais um momento alto da Mozartwoche.





quinta-feira, 30 de janeiro de 2014




Sintra,
Casino anima opiniões


Para entenderem os textos que se seguem, deverão aceder, novamente, àqueles que os precedem. Para vossa comodidade, foram publicados, aqui mesmo, no sintradoavesso, no passado dia 27 de Janeiro, subordinado ao título "Sintra, novamente o velho Casino", em transcrição do meu artigo publicado no 'Jornal de Sintra', última edição de 24 de Janeiro.

Nestes termos, por ordem cronológica, passo a reproduzir, do meu mural do facebook, o texto I, subscrito por João de Mello Alvim e, seguidamente, o texto II, com a minha réplica. 



Texto I

Pois João, (de Oliveira Cachado)depois de te (re)ler e esperar que mais alguém expusesse argumentos, mantenho o conteúdo dos “três parágrafos”, http://tresparagrafossegundaedicao.wordpress.com/tag/casino/,
mas acrescento três notas para tentar esclarecer melhor o que então escrevi:

1º A instalação no primeiro andar (?) do Casino de parte da obra do Bartolomeu Cid (que tanto me ensinou enquanto jovem estudante de Belas-Artes), um criador dentro de uma área tão específica das artes plásticas, como é a gravura, não me parece uma prioridade no actual estado da oferta artística em Sintra. Prioritário é a existência de equipamentos para a realização de congressos e conferências, assim como a criação de um polo dinâmico destinado à criação e à oferta cruzada e permanente (artes plásticas contemporâneas, performativas e escrita) privilegiando, criteriosamente, jovens criadores, tanto de Sintra como de fora, nacionais e internacionais, de forma a potenciar públicos para outras iniciativas mais exigentes em termos de leitura (porque os gostos discutem-se, se tivermos conhecimentos para o fazer) numa dinâmica de oferta em rede com os outros equipamentos culturais daquela zona da Estefânia;

2º Exemplo do que não deve ser uma estratégia de direcção de um museu dos nossos dias foi a usada pela (estimável) Maria Nobre Franco enquanto esteve à frente do Sintra-Museu – e esta não é a primeira vez que o digo. A colecção (importante) era de arte contemporânea, a estratégia museológica seguida foi do século XIX, ou seja, o museu imóvel, não activo no catalisar de novos públicos (veja-se, com as devidas distância, o que faz a Tate Modem, o MAC de São Paulo, ou mesmo, desde que rompeu com os conceitos museológicos do passado, o MNAC, Museu do Chiado). Tu falas dos estrangeiros que bateram com o nariz na porta no verão passado, eu estou mais preocupado com os níveis gerais de afluência que esta estratégia gerou, nomeadamente junto dos munícipes não iniciados, e mesmo dos iniciados, mas também dos nacionais e de todos os que têm uma ideia distorcida do que são as artes plásticas, do impressionismo para a frente. Sobre o Protocolo que vigorou, prefiro não falar…;

3º É um facto a existência naquela zona da Estefânia de equipamentos vocacionados para a oferta cultural. Curiosamente – e já que nomeaste esta associação cultural - o Chão de Oliva (CO) já lá estava (ou tinha passado e voltado), antes do Olga Cadaval, do Sintra-Museu e da Vila Alda. Como tal o CO vai, previsivelmente, continuar a desenvolver a sua actividade em rede, ou sem rede (acho que está mais habituado, literalmente, a esta situação…). Mas, como munícipe e elemento do CO, lamento a não articulação da oferta nesta zona, a sobreposição de actividades, a ausência de espaços para novos criadores, o desperdiçar dos dinheiros públicos de forma tão gritantemente desequilibrada, em nome de pretensiosos elitismos que não geram, nem estão interessados em gerar, correntes de público, porque o “público”, são eles. (Declaração de interesses antes do abraço amigo: nunca me passou pela cabeça ser responsável, por um equipamento municipal vocacionado para a oferta artística).






Texto II




Meu caro João De Mello Alvim, muito obrigado pela tua reflexão. Estou como tu, sem motivos para alterar a minha posição. E, muito sinceramente, não percebo a tua insistência no Casino. Trata-se de um espaço reservado, que tem estado a ser beneficiado com equipamento indispensável e obras que a Câmara Municipal de Sintra se comprometeu concretizar no sentido de acolher a Colecção de BCS, na sequência de um Protocolo celebrado com a Cedente, viúva do artista.

O assunto está em andamento, não está esquecido, palavras do próprio Presidente da Câmara Municipal de Sintra, perante minha pergunta na reunião da Assembleia Municipal do dia 27 de Dezembro do ano findo. Quanto ao Protocolo, há uma ou outra alteração em estudo, cláusulas a dirimir entre as partes que se comprometeram em sessão pública da assinatura à qual eu também assisti.


A propósito das tuas palavras supra, ocorreu-me a sua articulação com o projecto geral do actual Vice-Presidente e Vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Sintra, Rui Pereira, que assina um verdadeiro «caderno de intenções» para o sector durante o seu mandato, nos termos subscritos na Agenda Cultural no. 97, Janeiro de 2014. No contexto a que te reportas, chama ele a atenção para a necessidade de aproveitar e potenciar uma série de espaços devolutos que, ao fim e ao cabo, com maiores ou menores dimensões, existem em todas as freguesias, desde escolas, instalações desportivas, espaços fabris, etc.

 
Parece-me que o Vice-Presidente tem toda a razão. Deve ter em mente, e com extrema oportunidade, figurinos afins e/ou idênticos ao da LX Factory de Alcântara. Trata-se de uma perspectiva de trabalho com o maior interesse que, como o próprio Rui Pereira muito bem sabe, e certamente melhor do que qualquer de nós, não tem qualquer pertinência em relação ao Casino, uma vez que, como é público, notório e patente, aquele se trata de um edifício definitivamente comprometido para a concretização de uma iniciativa cultural que, ao contrário da tua opinião, considero da máxima importância para Sintra, pelas razões que tive oportunidade de expor.


Além das capacidades por explorar do Centro Cultural Olga Cadaval, que, em termos da programação, tem «vazios» de espaço e de tempo disponíveis que são um desafio aliciante à argúcia e capacidade de negociação dos agentes culturais da zona de Estefânea com a SintraQuorum, Empresa Municipal, o que não faltam na zona são edifícios efectivamente devolutos, à espera de aproveitamento, tanto do património municipal como particular.


Para já, finalmente – como sabes estou em Salzburg e sem qualquer disponibilidade – um pequeno apontamento em relação à pretensa falta de dinâmica do Sintra Museu de Arte Moderna. Acompanhei de muito perto a actividade da Direcção de Maria Nobre Franco que, com os meios de que dispunha, não podia ter feito mais. E foi muito, geralmente reconhecido como tal. Basta consultar os registos das visitas às exposições para verificar que públicos, escolares de todo o concelho e de todos os níveis de ensino, de idosos e outros foram desafiados às visitas. E os ateliês, os pequenos cursos e outras iniciativas de animação e partilha das condições existentes. Mas, repito, com os meios que foram colocados à sua disposição.



Ainda a rematar e, a propósito dos estrangeiros que «bateram com o nariz na porta», julgo teres entendido mal. De facto, também eu não estou nada preocupado com eles. O episódio, apenas um entre muitos semelhantes, é que confirma como o Casino tem continuado a ser procurado como espaço afim da Arte Moderna, em consequência de uma afinidade com a Arte Moderna e Contemporânea e por ter entrado e nos circuitos.

Quando regressar a Sintra, dentro de uma semana, não faltarão oportunidades para continuar a debater estas questões. Um forte abraço








[SALZBURG, 29.01.2014(1)]




[facebook, 29.01.2014]


Antes de mais, a confirmar que, no intervalo do concerto de câmara desta manhã, acerca do qual vos darei breve nota, tive oportunidade de trocar impressões com gente responsável e conhecedora dos mais sofisticados meandros da Mozartwoche que – na sequência de eu apontar como de muito baixo nível a prestação de Villazón – me replicou dando a razão que me assiste.

Caramba
! Não tenho a mania de que sei tudo mas, c’os diabos, ainda consigo verificar as qualidades de uma voz e, no caso de Villazón, até nem é preciso ser perspicaz… «Aquilo» não existe, parece impossível. Em Salzburg? Em plena Mozartwoche, no suprassumo do bom, do melhor serviço a Mozart? Entre lábios mais ou menos cerrados, também me foi dito que Marc Minkowski não é insensível à possibilidade de encher a casa se tiver de fazer uma concessão a certo público menos exigente. Olhem, enfim, talvez se prejudique. Minha já lá tem uma carta de protesto que não é única.

1.Na segunda-feira, anteontem, dia 27, um concerto excepcional, com a Camerata Salzburg, sob a direcção de Louis Langrée, para um programa muito interessante em que o espectador tinha a possibilidade de comparar o tratamento que Mozart e Gluck deram às suas óperas subordinadas ao mesmo título, ou seja, “La Clemenza di Tito” que, como sabem, partem de um mesmo de Pietro Metastasio.

Um sucesso, inexcedível qualidade, presenças magníficas de Malin Hartelius, soprano, Marianne Crebassa, Mezzo e de Andrew Staples, tenor. Staples, em especial, está a revelar-se um grande mozartiano. A Camerata é uma das jóias musicais da cidade pela qual os salisburguenses têm natural carinho. Ainda sou do tempo de Sandor Vegh como maestro e, depois, tenho conhecido os sucessores, Sir Roger Norrington, até 2005, Leonidas Kavakos, até 2009 e, desde2011, Langré.

2. Brevíssima referência ao recital de Michael Schade e Malcom Martineau. Mas, primeiramente, permitam que, mais uma vez, dê graças a Deus por, em devido tempo – e era tão miúdo, nos meus quatorze anos – ter decidido ir para Letras, na altura em que se tinha de optar por estas ou por Ciências, para fazer Germânicas. Não era com o objectivo de estudar línguas já que, para o efeito, na altura já havia boas escolas, mas pela cultura germânica.

Claro que, para o efeito, o Alemão é indispensável e eu aprendi-o, por vezes até com certa dificuldade. Dou graças porque, não fosse esse substrato e eu não conseguiria acompanhar e deleitar-me com os lieder germânicos. Quem não souber a língua pode aproximar-se… Agora, perceber a obra em toda a sua profundidade, perceber a simbiose entre poema e soluções musicais, isso é outra coisa bem mais gratificante.

Querem ter ideia do que esteve em causa?
Vejam a lista das peças em programa:

Wolfgang Amadeus Mozart - Das Veilchen KV 476
Wolfgang Amadeus Mozart - ''An Chloe'' KV 524
Wolfgang Amadeus Mozart - "Komm, liebe Zither, komm" KV 351 (367b)
Wolfgang Amadeus Mozart - ''Das Lied der Trennung'' KV 519

Franz Schubert - ''Adelaide'' D 95
Franz Schubert - ''Täglich zu singen'' D 533
Franz Schubert - ''An eine Quelle'' op. post 109/3 - D 530
Franz Schubert - ''Der Jüngling an der Quelle'' D 300
Franz Schubert - ''Der Blumenbrief'' D 622
Franz Schubert - ''Ganymed'' op. 19/3 - D 544

Wolfgang Amadeus Mozart - "Die ihr des unermeßlichen Weltalls Schöpfer ehrt" KV 619 (*)
Richard Strauss - ''Lotusblätter''. Sechs Lieder op. 19 - TtrV 152

Johannes Brahms - ''An eine Aeolsharfe'' op. 19/5
Johannes Brahms - ''Lerchengesang'' op. 70/2
Johannes Brahms - ''Heimweh II'' op. 63/8
Johannes Brahms - ''Auf dem See'' op. 106/2

Richard Strauss - "Allerseelen" op. 10/8
Richard Strauss - ''Befreit'' op. 39/4
Richard Strauss - "Morgen" op. 27/4
Richard Strauss - ''Nichts'' op. 10/2
Richard Strauss - Zueignung op. 10/1

Nesse indissociável «casulo» do Lied, durante o recital de Schade/Martineau – cada vez mais, é preciso não subalternizar a componente pianística, imprescindível para o êxito – fui às lágrimas por várias vezes. Sublime! Com a casa a abarrotar, que lição a entrega às obras do grande tenor mozartiano! Que prova, inclusive de evidente esforço físico que tal entrega pressupõe! A Arte, no palco do Mozarteum, como tantas e tantas vezes acontece. O melhor que o Homem sabe, a Arte.

(*) Desta peça maçónica, foi só a melhor interpretação, quer ao vivo quer gravada, que ouvi em toda a vida.

3. À tarde, recital de Kristian Bezuidenhout,. Foi na Aula Magna da Universidade de Salzburg - o mesmo auditório onde, com onze anos, Mozart viu estrear “Apollo et Hyacinthus,” KV. 38, récita durante a qual o próprio «miúdo» tocou o cravo – por isso, sempre uma emoção ali entrar.

Em pianoforte, Bezuidenhout tocou as Sonatas KV. 309, 283, 332, 279 e 311. Casa cheia, outro êxito flagrante. O homem, que já conheço de outros palcos, é mesmo um dos grandes valores da designada ‘música antiga’ mas que faz os clássicos com a maior mestria. Pretendia eu saber como vai a sua forma já que, brevemente, estará em Portugal, no âmbito da iniciativa da temporada organizada pela Parques de Sintra Monte da Lua em Queluz, sob a direcção artística de Massimo Mazzeo.

4. A noite de ontem, na Grosse Saal do Mozarteum, Orquestra do Mozarteum de Salzburg, sob a direcção do maestro titular Ivor Bolton, para interpretar as Sinfonias Nos. 1 e 3 de Muzio Clementi, também celebrado nesta edição da Mozartwoche como um dos contemporâneos de Mozart acerca do qual já vos tenho proposto um ou outro texto.

A voz da noite foi de Christiane Karg, soprano, que interpretou árias tão exigentes como ‘Amoretti, che ascosi qui siete’ de “La finta simplice”, KV. 51, ‘Lungi da te, mio bene’, de “Mitridate, Re di Ponto”, KV.87, ‘Ferma, aspetta, ove, vai – infelici affetti miei’, de “Ascanio in Alba”, KV. 111 e’Biancheggiain mar lo scoglio’, de “Il sogno di Scipione”, KV. 126, todas de Mozart, claro.

Casa cheia, outro enorme êxito. Christiane Karg é um «produto» total da escola do Mozarteum. Aqui se fez. Depois, na Opera de Frankfurt, tem ganho tarimba. Ainda muito jovem, já é um valor ao serviço de Amadé.







[SALZBURG, 28.01.2014 (3)]




[facebook, 29.01.2014]


Então, vamos lá pôr um pouco de ordem nos relatos, fazendo-o por ordem cronológica dos eventos.

1.Primeiramente, reportando-me ao concerto do passado dia 26, domingo, à noite. Se bem se lembram, nesse dia, já vos tinha dado conta das missas, de manhã, e do concerto da tarde, exclusivamente com peças de Arvo Pärt, no ‘Solitär’, o auditório da Universidade Mozarteum.
Muito rapidamente, a lembrar que aconteceu na Haus für Mozart, intervindo Les Musiciens du Louvre Grenole, sob a direcção de Marc Minkowski. Em programa, além da Sinfonia em Lá Maior KV. 201 e da Abertura de “Il re pastore”, KV. 208, do ‘Andantino’ da Serenata em Ré Maior KV. 320, ainda de Mozart, teríamos as árias ‘Il mio tesoro intanto’ de Don Ottavio, e Recitativo e Ária ‘Crudele! - …Non mi dir bell’idol mio’ de Donna Anna. De Gluck, Recitativo, Ária e dueto Armide-Renaud, da ópera “Armide”.

A anunciada soprano Sonya Yoncheva foi substituída por Chiara Skerath e o tenor de serviço, nem mais nem menos, do que Rolando Villazón. Como eu já estava à espera o bom do mexicano prejudicou o excelente saldo do evento. Palavra de honra que não percebo como é que Minkowski, director de extremo bom gosto, homem que tem um raríssimo feeling para descobrir novos talentos, insiste em trazer Villazón a Salzburg. São conhecidas as suas dificuldades, após uma má gestão do órgão vocal e nunca deveria atrever-se a cantar Mozart. A verdade é que tem um público histérico, do género de umas senhoras de meia idade que se passam com o latino. Enfim, uma tristeza. Não há bela sem senão e, a prová-lo, o episódio de domingo à noite.

2. Ontem, segunda-feira, dia 27, aflorei apenas a questão da comemoração oficial do aniversário de Amadé. Dei-vos conta da cerimónia em que Alfred Brendel foi agraciado com a maior honra que a Fundação do Mozarteum dispensa, a sua Medalha de Ouro. O ano passado, se bem se lembram, o distinguido foi András Schiff e, já soube que, no próximo ano, como não poderia deixar de acontecer, será Mitsuko Uchida.

Para que tenham ideia do nível de organização milimétrica destes eventos, tenham em consideração que, tendo começado às 11,00, a função terminaria às 12,30. Entretanto numa hora e meia, tivemos: 1. A interpretação do 1º Andamento, Allegro vivace assai do Quarteto em Si Maior, KV. 458, de Mozart, pelo Minetti Quartet; 2. Discurso do Presidente da Fundação Internacional do Mozarteum de Salzburg; 3. Interpretação por Elizageth Craig (sobre quem publiquei um post) de três canções de Mozart, a saber, ‘Der Zauberer’, KV. 472, ‘An die Freude’, KV. 53 e ‘Die Alte’, KV. 517; 4. Discurso do Presidente da Câmara Municipal de Salzburg; 5. Discurso do Presidente da Região; 6. Interpretação de “12 Variações para Piano e Violoncelo op. 66, de Beethoven, sobre ‘Ein Mädchen oder Weibchen’, da ópera “A Flauta Mágica” de Mozart, por Adrian Brendel e Kit Armstrong (piano); 7. Discurso ‘Laudatio’ de Alfred Brendel, por Andreas Dorschel; 8. Discurso de agradecimento de Alfred Brendel; 9. Interpretação da canção ‘Acht Gedichte, op. 10, No. 5 de Richard Strauss; 10. Interpretação do Andamento ‘Allegro assai’, do Quarteto em Si Maior, KV. 458 de Mozart.

Estão esclarecidos?

À tarde, não participei das comemorações de rua do aniversário de Mozart. Não me dou particularmente bem com multidões. À noite, um concerto com a Orquestra do Mozarteum acerca do qual mais logo vos contarei.






[SALZBURG, 28.01.2014 (1)]


[facebook, 28.01.2014]


Não era nada que não tivesse previsto. De facto, não é possível manter-vos actualizados em relação aos concertos e recitais a que vou assistindo. Eu já tinha decidido que, não o podendo fazer em relação aos três eventos por dia, tentaria pôr-vos ao corrente de um ou dois no máximo. Pois, neste momento, tenho um atraso que só eu e Deus Nosso Senhor é que sabemos…

Mas, ten
do acabado de assistir a um recital absolutamente memorável, COM Michael Schade e Malcom Martineau – daqueles que fica para o resto da vida – não resisto a partilhar a impressão que, mais uma vez, me deixou Michael Schade. Na minha opinião, e estou muito bem acompanhado, é «o» tenor mozartiano.

Ouvi, há cerca de uma hora, a melhor interpretação que já alguma vez escutei de “ Dir Ihr des unermesslichen Welthalls Schöpfer ehrt”, KV. 619, a célebre Cantata que Mozart escreveu no último ano de vida, salientando as virtudes maçónicas da Ordem, da Harmonia e do Amor Fraternal.

Claro que se trata de uma peça que, em especial, no Andante ‘Liebt mich in meinem Werken’ tem especiais afinidades com “Die Zauberflöte” [A Flauta Mágica], ópera datada apenas de umas semanas mais tarde. 

Agora, aqui 14,25, vou para um recital que começa às 15,00, na Aula Magna da Universidade, com o pianista Kristian Bezuidenhout, que tocará as Sonatas KV. 309, 283, 332, 279 e 311 de Mozart em pianoforte.

Mais logo vos contarei a razão do especial interesse por este artista. Antes, no entanto, deixar-vos-ei com uma gravação da referida cantata, cuja interpretação não está identificada. Embora de muito bom recorte, fica a considerável distância do que ouvi.

Boa audição!

http://youtu.be/TXG1MdmfEbY




segunda-feira, 27 de janeiro de 2014





Ainda a propósito...


Ainda a propósito do meu texto 'In memoriam', publicado há umas horas, acerca do 27 de Janeiro comemorando a libertação de Auschwitz, campo de extermínio onde se cometeram barbaridades inomináveis, gostaria de acrescentar mais umas considerações.

Tais «barbaridades», se bem as quisermos entender, são apenas parte de um novelo muito complicado que, na sua quota parte de resp
onsabilidade, uma série de povos europeus envolvidos nos seus fios, assumem-naos com tanta dificuldade como os alemães.

De facto, os comandantes dos campos eram alemães, como alemão era o Estado Maior que tudo geria. Mas, então, os colaboracionistas em toda a Europa, cuja face mais descarada é a da França, através do governo de Vichy, que representava a esmagadora e silenciosa maioria dos franceses, e que enchia vagões e vagões com famílias de judeus, o mesmo acontecendo a Norte, no Sul, do Leste ao Oeste de todo o continente?

Não coincidente, mas no mesmo contexto, que histórias já foram contadas e quantas haverá por contar da actuação dos fascistas portugueses, espanhóis e italianos, bem como do genocídio de tantos milhões de cidadãos na Rússia Soviética? Tudo isto nos envergonha porque o Homem - portanto, nós - somos assim, capazes das maiores «barbaridades». Não são os outros, não são os alemães. Somos todos assim.

A semente que somos tem uma vertente de malignidade que é temível quando encontra terreno fértil. Nós, portugueses, por exemplo, que pedras poderemos atirar aos alemães? Só por ter sido «anteontem», há 75 anos? Bem podemos «limpar as mãos à parede», com as históricas «barbaridades» que concretizámos, em todas as latitudes, durante séculos, nada nos consolando o facto de «os outros» terem feito o mesmo...

Os alemães, as novas gerações de alemães - e não se confunda povo alemão com o actual governo alemão, como não pode confundir-se povo português com o actual governo português, apesar de, em ambos os respectivos países, vigorarem Estados Democráticos de Direito - os alemães, escrevia eu, estão num complicado processo de exorcismo dos fantasmas do nazismo. E ainda estarão a lamber as feridas durante muito tempo. É ver a Arte que produzem, o Teatro, a Ópera, a Literatura, testemunhando como assim está a acontecer.

O mínimo que podemos, nós que temos dificuldade de fazer o mesmo em relação a outras cenas que nos envergonham, é ir acompanhando, sem precipitados juízos de valor, respeitando o processo. Tentar ser civilizado, embora tenha um preço altíssimo, está ao alcance de todos. Pelo menos, tentemos.




Só a confirmar


Leram os meus textos – de ontem, a propósito das Missas e da Música que se fazem na Catedral e na igreja dos Franciscanos – e, de hoje, relativo a Claire Elizabeth Craig, que cantou na cerimónia oficial da comemoração do aniversário de Mozart? Pois aí têm uma biografia sucinta do soprano através da qual podem verificar a sua relação com a música da Dom (catedral).

[Ah, ainda a tem...po. Repararam naquela referência à ópera de Ullmann, “Der Kaiser von Atlantis” [O Imperador da Atlântida]? Pois, então, se quiserem dar-me esse prazer, pelo mesmo título, consultem o arquivo do meu blogue
www.sintradoavesso.blogspot.com onde encontrarão dois texto que, sem presunção, poderão dar-vos algumas pistas sobre obra tão pouco conhecida mas importante na música contemporânea do tempo do nacional-socialismo alemão.]


 Claire Elizabeth Craig

* born in Germany.

In March 2014, the British soprano Claire Elizabeth Craig will be starring Servilia in a new production of Mozart’s La clemenza di Tito at Mozarteum Salzburg.
Claire Elizabeth Craig made her debut at the Salzburg Festival in 2013 as a member of the vocal ensemble in Mendelssohn’s A Midsummer Night’s Dream, which was accompanied by the Mozarteum Orchestra under the baton of Ivor Bolton. In October 2013, she made her first appearance in China at the Macao International Music Festival where she sang Bastienne in Mozart’s Bastien und Bastienne.
At the Mozarteum Salzburg Claire Elizabeth Craig performed Susanna in Mozart’s Le nozze di Figaro as well as Bubikopf in Ullmann’s Der Kaiser von Atlantis in 2013.
The soprano is a member of the Salzburg Dommusik as well as the Salzburg Konzertgesellschaft. From early on she has regularly been a soloist in performances of sacred music. Her concert repertoire includes Pergolesi’s Stabat Mater. In September 2014, Claire Elizabeth Craig will sing Mozart’s Mass in C minor in Pisa, Italy.


In memoriam


Hoje, 27 de Janeiro, não tenhamos em consideração apenas as efemérides do mundo da música relativas ao nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart e à morte de Giuseppe Verdi. De facto há muito mais para recordar. Por exemplo, em 194
5, a libertação de Auschwitz-Birkenau, um campo de extermínio.

Foi ontem. 75 anos é um sopro de tempo histórico. Campo de extermínio, campo de concentração, campo de trabalho. “Arbeit macht frei”, lembram-se? Pois, em «campo de trabalho», o trabalho liberta. Entretanto, irreversível, o escândalo continua a desafiar a explicação. Porque o Homem, de facto, foi capaz, é capaz. Basta que a semente encontre campo fértil.

Hoje, 27 de Janeiro, mais uma vez, um conselho que, da minha parte, já se tornou recorrente. Leiam “O Mundo de Ontem, Memórias de um Europeu”. O seu autor, Stefan Zweig, viveu aqui em Salzburg, entre 1919 e 1934, numa casa em Kapuzinenberg que vejo deste quarto já que, St Sebastian, onde costumo ficar durante as minhas estadas na cidad, fica na Linzer Gasse, mesmo na base do referido monte, apenas à distância de umas poucas dezenas de metros em altura.

Vou lá muitas vezes e, hoje também, vim de lá há pouco. In memoriam. Como nem tamanha proximidade nem as «peregrinações» ali acima beneficiaram a prosa deste vosso escriba, ao menos aceitem o conselho. Ponham de lado estas linhas e procurem ler, isso sim, a obra do mestre cujas deambulações e tremendo périplo, que não acabou bem, tudo têm a ver com a efeméride de Auschwitz-Birkenau.

Façam-no também por via da lucidez que todos afirmamos demandar.





Soprano de qualidade


CLAIRE ELISABETH CRAIG, nascida em Ulm, foi a «piquena» que, há pouco, durante a cerimónia oficial da celebração do 258º aniversário de Mozart, substituiu a anunciada Christiane Karg, cantando, de Mozart, "Der Zauberer...", KV. 472, "An die Freude", KV.53, "Die Alte", KV. 517 e de Richard Strauss " op. 10, No, 5 "Geduld", No. 1 'Zueignung'. É aluna de Barbara Bonney, grande amiga de Salzburg. Entusiasmou a sala. O melhor é começarem a reparar. Para mim, já está debaixo de olho...


Die in Ulm geborene Sopranistin und Studentin von Barbara Bonney Claire Elizabeth Craig wird morgen anstatt Christiane Karg im Festakt zu Mozarts Geburtstag um 11.00 Uhr







Sintra, novamente
o velho Casino







[Não é por estar longe de Sintra que me esqueceria da «encomenda semanal» do ‘Jornal de Sintra’. Portanto, aí têm a transcrição do meu último artigo, publicado na edição do dia 24.01.2014. Tenham em atenção que, tal como está assinalado, os três primeiros parágrafos são assinados por João de Mello Alvim, funcionando como epígrafe desafiadora do meu escrito.]




No final do mandato, legal mas não ponderadamente, o anterior Executivo camarário assinou um protocolo para a instalação do espólio do gravador Bartolomeu Cid no Casino, edifício que já foi museu (sem se afirmar, diga-se, por falta de estratégia de quem o dirigia) primeiro espaço do Chão de Oliva (e onde nasceu a primeira companhia de teatro profissional de Sintra), escola preparatória e repartição de finanças, mas nunca casino.
Nada me move contra o artista – foi mesmo por indicação de um dos meus mestres, era então eu um jovem estudante de Belas-Artes, Ângelo de Sousa, a minha primeira referência na gravura -, mas não estou convencido que a instalação do espólio deste gravador de prestígio internacional, seja a melhor opção na actual gestão dos espaços municipais, assim como na dinâmica da oferta artística daquela zona da Estefânia.
Actualmente, Sintra precisa de um espaço de gestão partilhada, município/agentes culturais com provas de gestão e programação dadas, que permita a disponibilização de salas para conferências e congressos, assim como de salas para ensaios, apresentação de pequenos espectáculos de artes performativas e exposições de artes plásticas, prioritariamente destinadas aos jovens criadores. A articulação da oferta dos espaços instalados nesta zona, de que a Vila Alda não pode ser excluída, ajudará a potenciar a dinamização da oferta artística, na diversidade vertical e horizontal: em rede, intransigente com a vulgaridade e a mediocridade, mas sem preconceitos elitistas.


["Três parágrafos", João de Mello Alvim, 20.01.2014]





Em geral, discordo do conteúdo dos Três parágrafos de João Alvim. Radica a minha opinião em argumentos que tenho publicado ao longo dos últimos anos, em particular nestas páginas do Jornal de Sintra, tendo-o feito não só a partir do momento em que todos nós, sintrenses, tomámos conhecimento da decisão de a Câmara Municipal de Sintra instalar o espólio de Bartolomeu Cid dos Santos no Casino, mas também, muito anteriormente, desde que o Casino passou a funcionar como Sintra Museu de Arte Moderna.

Aproveito a oportunidade para ir um pouco atrás no tempo, mais precisamente, ao fim século passado. Com base em interessantíssimas memórias, que importa conhecer convenientemente, objecto do opúsculo subordinado ao título História do Casino ou Os Equívocos de um Tempo Sintrense de José Sarmento de Matos, sabemos que o destino daquele edifício está marcado por uma específica vocação que, em Setembro de 1997, levou Edite Estrela a escrever as seguintes palavras, na breve Introdução à referida publicação:

“(…) Em Sintra, projectos como este, do novo Museu de Arte Moderna que instalámos no velho Casino, pela sua importância e valor, têm uma projecção internacional que consolida a personalidade histórica, estética e cultural que todos lhe reconhecem. Sintra (…) assume que nos nossos dias o reequilíbrio humano, emocional e sensível, só logra atingir resultados satisfatórios no âmbito de uma vertente turística assumidamente cultural (…)”*

Arte moderna, uma vocação

Dentre as medidas mais acertadas dos dois mandatos de Edite Estrela, neste contexto da actividade cultural do concelho, mas com inequívocas mais-valias e vantagens noutros domínios, com o do turismo a evidenciar-se, não tenho a menor dúvida em destacar a assinatura do Protocolo afim da disponibilização da Colecção Berardo no Casino, como das melhores e de maior alcance estratégico.

Ao contrário do que João de Mello Alvim dá a entender, durante o tempo em que funcionou como museu, mais de uma década sob a Direcção de Maria Nobre Franco e, finalmente, com Pedro Aguilar, o Casino foi um espaço privilegiado de usufruto das artes plásticas, procurado por inúmeros visitantes que, em muitos casos, demandaram Sintra expressamente, «por causa» da Colecção ou das exposições temporárias que, instalado no Casino, aquele museu promoveu. Tenha-se em consideração que, já com o espaço encerrado, entre Outubro e Dezembro do ano passado, estrangeiros houve que bateram à porta do Casino perguntando pela Colecção de Arte Moderna…

Se bem se entende, a incontornável realidade a que me reporto, que, de modo algum, poderá ser negligenciada, demonstra e afirma que o Museu do Casino passou a colocar Sintra no circuito nacional e internacional da Arte Moderna e Contemporânea. Ora bem, tal vivência e consumo da Arte, ainda tão recentes, não podem, não devem deixar de ser considerados por quem tem mandato para decidir sobre questão tão interessante ainda que compósita e complexa.

Os benefícios, efeitos e alcance do anterior Museu, são evidentes ainda que dificilmente mensuráveis e, uma vez que não são despiciendos, podem e devem ser capitalizados no mesmo território artístico. Foi neste âmbito e tendo tão determinantes factores em consideração, que o executivo camarário precedente, liderado por Fernando Seara, afinal, mais não fez do que honrar o implícito legado da sua e já referida antecessora.

Fez bem o anterior executivo. Sediar o espólio de Bartolomeu Cid dos Santos no Casino foi uma decisão de grande acerto, embora nada fácil de concretizar. Na medida do possível, como fui acompanhando pari passu o que sabia estar em vias de negociação, tive conhecimento de que o espólio chegou a ser disputado por outras entidades sem que, no entanto, Sintra tivesse deixado os seus créditos por mãos alheias e, finalmente, conseguindo que ficasse entre nós tão valioso acervo – ‘fabuloso’, segundo a avaliação de Jorge Telles de Meneses.

Entretanto, preocupado com um aparente adiamento da instalação da Colecção, solicitei esclarecimento conveniente à Assembleia Municipal de Sintra durante a sessão de 27 de Dezembro passado. Nessa oportunidade, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra sossegou, elucidando no preciso sentido de que, nestes tempos iniciais do seu mandato, o projecto não fora esquecido e que a CMS estava, tão somente, estudando detalhes do Protocolo de Cedência, certamente, no sentido de o melhorar.

Espaço não falta

Tratando-se de matéria para juristas dirimirem, esperemos serenamente o resultado do trabalho dos consultores da CMS e da cedente Maria Fernanda dos Santos, viúva do artista, na certeza de que, nos termos da oportuna decisão, a Colecção ocupará o espaço do Casino, mas não a totalidade das instalações. Como o espólio jamais poderá estar exposto na totalidade, deverá considerar-se uma adequada zona de reservas e, para o efeito, a necessidade de concretização das obras que já estavam previstas.

Assim sendo, haverá espaços livres para a concretização dos projectos culturais que a Câmara Municipal de Sintra ali decida promover, por sua iniciativa exclusiva ou em articulação com outras entidades. Mais, como o Casino se integra num dispositivo cultural indissociável do CCOC, portanto, não faltando espaço físico, ainda maior a pertinência deste enunciado programático de «boa vizinhança» com os agentes culturais locais.

É nestes termos, estou em crer, que se impõe rendibilizar tais espaços, ao máximo da sua capacidade, obviando os longos e nada recomendáveis «vazios», que se sabe existirem, absolutamente surpreendentes no caso do Centro Cultural Olga Cadaval e que, satisfazendo a sugestão de João Mello Alvim, já dispõe de salas e salinhas “(…) para conferências e congressos, assim como de salas para ensaios, apresentação de pequenos espectáculos de artes performativas e exposições de artes plásticas, prioritariamente destinadas aos jovens criadores (…)”.

Há uma íntima relação entre o CCOC e o Casino, fruto de características únicas de dois edifícios com grandes afinidades, inclusive estéticas, já que não podem negar terem resultado do atelier do mesmo arquitecto. Na disponibilidade de significativas áreas que, de modo algum, têm uma ocupação esgotada, o Centro Cultural Olga Cadaval, por um lado, e o Casino – que, repito, instalando a Colecção Bartolomeu Cid dos Santos, ainda ficará com áreas disponíveis – por outro, poderão articular as suas actividades e programação com associações culturais credíveis, indispensáveis e, como no caso de 'Chão de Oliva', até com peso histórico local e nacional amplamente reconhecidos.

*Câmara Municipal de Sintra, ed, 1997

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]




Manhã,
às missas, numa pressa





[Salzburg, 26.01.2014] De manhã, as Missas de Mozart. Às nove horas, na igreja dos Franciscanos, “Credo Messe”, em Dó maior, KV. 257. Uma hora depois, na Catedral, a “Piccolomini Messe”, na mesma tonalidade que a precedente, KV. 258, ambas compostas em Salzburg entre os anos de 1775 e 1777. Naturalmente, o tempo é tão escasso que mal dá para saír da primeira e (per)correr os cerca de duzentos metros entre os dois templos para não «perder pitada» de uma e da outra.

Há muitos anos que, aqui estando, as manhãs de domingo são sempre assim preenchidas. Dirão que pareço uma «rata de sacristia». Pois, quem não quer ser lobo… De qualquer modo, se tiverem em consideração que sou católico, apostólico romano, então o que dirão daqueles que não o sendo, fazem exactamente a mesma figura?

Pois, quer dos católicos como eu, quer dos de outras confissões e agnósticos, ateus, etc, melhor será que digam apenas serem apreciadores de boa música e que, com esta atitude, em plena Mozartwoche, satisfazem a abordagem, ao vivo, de peças da vertente de música sacra composta por Mozart, também ele católico, e senhor de uma relação tão especial com o divino. Tão simples como isto.

Vamos a coisas sérias. A Arquidiocese de Salzburg é extremamente activa em todos os domínios socioculturais e, como é evidente, também na Música. É famoso em todo o mundo o programa ‘Salzburger Dommusik’, cujo responsável máximo é János Czifra, o conhecido Kapellmeister. Já agora tomem nota do sítio da internet
www.kirchen.net/dommusik pois, mesmo desconhecendo Alemão, aperceber-se-ão da riqueza e variedade das iniciativas, nomeadamente, o das missas cantadas, com solistas, coro, acompanhamento por orquestra, pelo menos, todos os domingos do ano, dias santos, festas especiais, etc.

A igreja dos franciscanos, também dispõe de um programa musical específico, dirigido por Bernhard Gfrerer, cobrindo domingos e festas religiosas. Não gostaria de propor qualquer comparação até porque as situações são incomparáveis quanto aos meios disponíveis. Não deixa de ser curioso, no entanto, que conhecidas vozes, tais são os casos de Barbara Bonney ou Angelika Kirchschlager, ali tenham cantado dando o seu contributo para a qualidade musical das missas. De igual modo, aí têm as refereências,
www.franziskanerkirche-salzburg.at. Tanto num como no outro caso, verão como ficam surpreendidos com a programação.

[A propósito e acerca do assunto, gostaria de lembrar que podem dispor de uma boa quantidade de textos escritos e publicados também no blogue. Encontrá-los-ão facilmente se procurarem por temas afins da religião, das missas, da morte, da maçonaria, música religiosa, sacra, etc.]

Tarde. Obras de Arvo Pärt, no 'Solitär'

À tarde, no estupendo auditório ‘Solitär’ da Universidade Mozarteum – onde, nos últimos anos, tenho assistido a inesquecíveis master classes, entre outros, de Mitsuko Uchida, Pierre Boulez, Thomas Quasthoff ou Sofia Gubaidolina – fui assistir a um evento exclusivamente preenchido por obras de Arvo Pärt. Quatrocentos lugares totalmente preenchidos.

Tenho a maior dificuldade em não ser «adjectivoso» porque, em síntese, foi tocante, impressionante, de uma elevação espiritual inequívoca, timbre, aliás da generalidade das propostas deste compositor. Uma hora densa, nem mais nem menos, sem qualquer interrupção para aplausos, uma hora para a interpretação de 9 obras, tão especiais.

“Summa”, para Coro misto ‘a cappella’, tão somente o Credo do Ordinário da Missa em Latim, 1977; ‘Canção de embalar’, com texto em Russo, excerto da Natividade, segundo São Lucas 2:7, 2002; ‘Fratres’ para Quarteto de cordas, 1977; ’Duas Sonatinas para piano, op1. No. 1, 1958; “Mozart-Adagio, para violino, violoncelo e piano”, 1992; “Duas Sonatinas para piano, Op. 1 no. 2; “Spiegel im Spiegel" [Espelho no espelho], para violoncelo e piano, 1978; “Canção de embalar estónia” e, finalmente “Summa para quarteto de Cordas”, eis o rol das obras apresentadas.

Através de um tal escaparate, bem se evidencia como Pärt, homem de fé, encontrou algo em que acreditar, em tempos de desespero [e de descrença. Talvez seja por isso que, num apelo à tradição, como fonte de ordem, tantos adeptostem conquistado para a sua música.

Dos músicos envolvidos, bastante jovens, estavam presentes o Quarteto Minetti, oito membros do Coro da Rádio e, muita atenção, Herbert Schuch, um pianista romeno requisitadíssimo, vencedor, entre outros de Concursos Internacionais de Piano, como o de Londres e o Beethoven de Viena.

Eis "Spiegel im Spiegel", um fragmento da magia vivida na hora de privilégio. Desculparão não ter encontrado uma gravação sem imagens. É que, assim, o documento musical, transforma-se num diaporama...

PS. Mais tarde, darei notícia do concerto da noite.

http://youtu.be/QtFPdBUl7XQ