[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 31 de julho de 2015



Merkel
desmaio em Bayreuth



[facebook, 27.07.2015]

Não percebo como é que a notícia não indica claramente o local onde tudo aconteceu. Foi no mais prestigiado dos festivais de ópera, exclusivamente afecto à obra de Richard Wagner. Naturalmente, todos os anos Merkel aparece em Bayreuth. Lá nisso é uma mulher de bom gosto! Desmaiar, caír da cadeira em Bayreuth, que chique!!
...
Na realidade, AM lá vai, anual e religiosamente. Mas, até agora, não houve chanceler que ousasse faltar. Tenho-os visto por lá todos. É, muito em Bayreuth, que os alemães têm feito o exorcismo dos seus fantasmas do período nacional-socialista. Já estou um bocado farto das encenações que, ao longo de décadas, não fazem outra coisa senão tentar limpar esse passado tão contundente.

E, pobre do Richard Wagner, que nenhuma culpa teve do aproveitamento que o Hitler e os seus piquenos fizeram de óperas sublimes. Óperas, aliás, como a Tetralogia do "Ring", que seriam incompreensíveis senão à luz do génio revolucionário de RW que, cúmplice de Bakunine e inspirado em Feuerbach, participou em levantamentos sociais do mais puro progressismo que determinaram o seu exílio.

Muito mais tarde, foi uma nora de Wagner, Winifred, casada com o filho Siegfried, quem, de facto, mais nazi do que o próprio Hitler, se encarregou de «nazificar» a família... Enquanto o Adolf esteve na prisão, até papel lhe levava para que nada lhe faltasse à escrita do "Mein Kampf". Recebia-o na 'Wahnfried', a casa da família Wagner, teve o condão de emporcalhar, de manchar aquele «santuário» bávaro.
 
É natural o que se passa ainda hoje. Tanta confusão! O modo como, tantas vezes, sem saberem exactamente do que falam ou escrevem, tantas pessoas conotam Hitler com Wagner como se, entre ambos, houvesse alguma sintonia. Há que ter em consideração, entre outros factores, que, em termos históricos, os doze anos de horror do regime nazi, metade dos quais em guerra, foram apenas ontem...

Não calculam as discussões a que tenho assistido na Alemanha, em casas de famílias cujos netos continuam a interrogar os avós tentando perceber como se deixaram envolver, como é que gente culta se deixou apanhar pelo turbilhão, que medos, que enredos, que loucura foi aquela...

De facto, a Arte, a grande arte, a Música, o Teatro, a Ópera têm feito o seu caminho mas continua a haver muito que fazer. É muito fácil, por exemplo, a Israel proibir que se toque Wagner no território de que se reclama. Menos fácil, muito mais difícil, é fazer o que o judeu Daniel Barenboim tem conseguido, inclusive, fundar e trabalhar com a West-Eastern Divan Orchestra, constituída por músicos judeus e árabes, fazendo-a soar onde seria impensável...
Enfim, onde eu já vou!..
 
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Chanceler alemã estava acompanhada pelo marido, pela ministra da Cultura e pelo presidente do parlamento federal e levantou-se pelo próprio pé
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