[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 28 de setembro de 2015



Setembro, o fim


Manhã cedo, recupero do lunar desatino da noite passada. No monte, a impossível quietude do Alentejo profundo. Que não se exprime. Até este alinhar das palavras com que, tão amenamente, me afadigo, ao fim e ao cabo, coisa de tão aparente sossego, quase roça a blasfémia, pela ofensa à inércia reinante, que tudo asfixia, tudo condiciona. Ah, como se pode pecar por tão pouco!...

Em pequeno almoço de fim de Setembro, ainda nos batemos com alguns dos nossos figuinh...os ‘pingo de mel’. Também as últimas uvas tintas e, santo Deus, os meus primeiros diospiros!

Aqui, tudo tão pródigo! Romãs e marmelos já esperam colheita. As laranjas alaranjam e, literalmente, algumas «explodem», como que protestando contra inclemências que, coitadas, lá saberão… Tangerinas? Ainda muito verdes, tantas, mal se distinguem das folhas.

Figos secos, há para o resto do ano. As amêndoas, apanhadas em fins de Julho, secaram como deviam. Graças a Deus, há bastante azeitona e, se tudo correr bem, quando a varejarmos, lá para o meado de Novembro, que serões não teremos, animados a figo com amêndoa, bagaço novo que São Martinho trará e o que mais se beber!

Entretanto, sob o famoso telheiro, sento-me nesta ou naquela cadeira, refastelado umas vezes, mais firme noutras, diante do manso horizonte de tanta vinha. O meu pequeno olival é singular ilhéu neste mar que, dia-a-dia, ganha os mais improváveis cambiantes avermelhados, acastanhados, arroxeados!
E, de vez em quando, os pássaros, em alegres despontes, numa afirmação de pertença e domínio, não vá algum de nós esquecer…

Pois é. O Outono. A propósito, um poema de Ludwig Rellstab. Um Outono outro, este que Franz Schubert traduziu para o idioma do Lied. É “Herbst” [Outono], D 945 que Dietrich Fischer-Dieskau canta como mais ninguém, acompanhado ao piano por Gerald Moore.


Herbst
 


Es rauschen die Winde
So herbstlich und kalt;
Verödet die Fluren,
Entblättert der Wald.
Ihr blumigen Auen!
Du sonniges Grün!
So welken die Blüten
Des Lebens dahin.

Es ziehen die Wolken
So finster und grau;
Verschwunden die Sterne
Am himmlischen Blau!
Ach, wie die Gestirne
Am Himmel entflieh'n,
So sinket die Hoffnung
Des Lebens dahin!

Ihr Tage des Lenzes
Mit Rosen geschmückt,
Wo ich den Geliebten
Ans Herze gedrückt!
Kalt über den Hügel
Rauscht, Winde, dahin!
So sterben die Rosen
Der Liebe dahin.
 
[Ludwig Rellstab]

 _______

Autumn

The breezes are rustling
Autumnal and cold,
Make barren the valleys
Denuding the wood.
The blooms on the meadows
So sunlit and green,
Now withering blossoms
Of life we have seen.

Such rushing of cloudbanks
So gloomy and grey;
And vanished are stars in
The heavenly blue.
As silvery clusters
To heaven must fade,
So sink resolutions
Of life that we made.

You days of the springtime
With roses adorned
When I my belovèd
Have pressed to my heart.
Cold over the hillside
Blow winds on the scene;
So die all the roses
Of love that has been.
_________


Boa Audição!

Ver mais

 

Sem comentários: