[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017






Que magnífico sentido de oportunidade !!
Só a Parques de Sintra !!


[publicado no facebook em 1 de Fevereiro]

A Parques de Sintra enviou-me a notícia a meio da tarde. Longe, em Salzburg, cheio de compromissos, não foi possível reagir logo e a manifestar a imensa satisfação por esta decisão absolutamente excepcional.

Estivesse eu em Sintra e logo teria feito o possível por contactar a minha amiga Inês Ferro, Directora dos Palácios Nacional de Sintra e de Queluz, cuja iniciativa terá sido determinante para este sucesso, manifestando-lhe o meu maior regozijo.

Um factor de enorme peso me comove muito. Adivinha e acerta quem bem me conhece. Pois, naturalmente, trata -se da relação da peça com a Senhora Marquesa de Cadaval. E todos compreenderão tal emoção se tiverem em consideração a estima e admiração profunda desde garoto e se lembrarem como, ainda mais, fiquei tão ligado à memória da Senhora Marquesa com o filme “Marquesa de Cadaval, uma Vida de Cultura” de que sou co-autor.

Não posso deixar de sentir que Sintra, através da Parques de Sintra, acaba de prestar mais uma homenagem, esta sim, à altura da grande mecenas. Trazer para o património nacional um bem tão sofisticado e precioso, sem dúvida, é um feito assinalável que nos enche da maior satisfação.
Mais uma vez, estão de parabéns os nossos amigos da Parques de Sintra e, em especial os seus administradores, Manuel Baptista, Sofia Cruz e Jose Lino Ramos.
 
E, agora, tal como comigo aconteceu, deliciem-se com a notícia !

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Parques de Sintra adquire leito histórico para o Palácio Nacional de Sintra

- Peça pertenceu à marquesa Olga de Cadaval
- Leito em ébano e prata é o único existente em território nacional
- A incorporação da obra no património nacional era há muito reivindicada
- A peça irá agora ser restaurada e, posteriormente, será exposta no “Quarto de Hóspedes” do Palácio Nacional de Sintra

Sintra,1 de fevereiro de 2017 – A Parques de Sintra adquiriu para o Palácio Nacional de Sintra um raríssimo leito de dossel português, em ébano e prata, datável de finais do século XVII, início do XVIII. Dado o valor dos materiais utilizados no seu fabrico, a quase totalidade dos móveis deste tipo não subsistiu até aos nossos dias, sendo este leito o único existente em território nacional.

Divulgado em 1953 pelo médico e historiador Reinaldo dos Santos na “História da Arte em Portugal”, este móvel de aparato, de grandes dimensões (alt. 2,90 x larg. 2,10 x prof. 2,32 m), pertencia à marquesa Olga de Cadaval e seria dez anos mais tarde vendido num leilão da extinta Leiria & Nascimento, voltando ao mercado em 2003 na Feira de Antiguidades da FIL. Dada a excecionalidade da peça, chegou então a ser considerada a sua aquisição para o Palácio Nacional de Sintra, um dos poucos edifícios com enquadramento histórico e escala para o acolher, facto que só agora se consumou.

A incorporação desta obra de referência no património artístico nacional era, de resto, há muito reivindicada por especialistas que se debruçaram sobre a peça. Num estudo publicado em 1972, Bernardo Ferrão defendeu de forma veemente a sua aquisição pelo Estado, o mesmo sucedendo com Artur Sandão, que chegou a lamentar e dar como certa a sua venda para o estrangeiro.

Peça única em território nacional

O leito “Cadaval” é em ébano revestido por placas em prata repuxada e cinzelada, tal como os ramos com flores e os elementos cónicos que encimam o espaldar e os remates do dossel, sugerindo ciprestes. Em latão dourado são apenas os anéis de união dos colunelos do espaldar e dos montantes.

O ébano e a prata eram utlizados em móveis muito excecionais, de cuja existência nos dão conta as fontes documentais relacionadas com a casa real e a alta nobreza, como o exemplar citado no “Inventário e sequestro da Casa dos marqueses de Távora”, aquando da sua execução no reinado de D. José I.

No decurso do processo de aquisição deste leito, peça única em Portugal, identificou-se um outro em Espanha com bastantes afinidades com o presente. Pertence ao tesouro da Basílica de Santa Maria de Elche, a quem foi legado por Gabriel Ponce de Léon e Lencastre, duque de Aveiro e marquês de Elche. A peça saiu de Portugal em 1753 e, após ter sido então restaurada por um prateiro de Alicante, passou a ser utilizada na cerimónia litúrgica da “Octava de la Assunción”, servindo para apresentar a Dormição de Maria, costume que se mantém até ao presente.

Conservação e investigação

O leito irá agora ser sujeito a uma intervenção de conservação e restauro centrada na consolidação da estrutura e limpeza dos numerosos elementos metálicos que o constituem. Em paralelo, decorrerá uma investigação com o objetivo de aprofundar o conhecimento acerca da peça e tentar esclarecer algumas questões em aberto, nomeadamente o facto de se poder tratar de um leito matrimonial ou funerário. Num futuro próximo, decorrerá a sua exposição pública no “Quarto de Hóspedes” do Palácio Nacional de Sintra


[Ilustr: Palácio Nacional de Sintra; Senhora Marquesa de Cadaval]
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 
 
 


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